CASO POLÊMICO

Mulher com morte cerebral é mantida viva para evitar aborto

Enfermeira de 30 anos permanece conectada a aparelhos contra vontade da família para que bebê de 19 semanas possa se desenvolver até viabilidade

O Tempo
Publicado em 29/05/2025 às 14:49
Compartilhar

Uma enfermeira de 30 anos, chamada Adriana Smith, está conectada a aparelhos de suporte vital há mais de 90 dias após ser declarada com morte cerebral no Hospital Universitário Emory, em Atlanta, na Geórgia, Estados Unidos. A instituição mantém Smith em suporte para que sua gravidez, que estava com nove semanas quando ela foi hospitalizada, possa continuar até que o bebê tenha condições de sobreviver fora do útero, apesar dos protestos da família.

O caso começou em fevereiro, quando o namorado de Smith a encontrou com dificuldades para respirar durante o sono. Na noite anterior, ela havia procurado atendimento no Hospital Northside, onde recebeu medicação e foi liberada sem a realização de exames mais detalhados, conforme relatado por sua mãe.

Smith foi posteriormente levada ao Hospital Universitário Emory com fortes dores de cabeça. "Uma tomografia computadorizada revelou coágulos sanguíneos em seu cérebro, e logo os médicos declararam que Smith estava com morte cerebral", segundo informações da MSNBC.

A situação está relacionada à Lei LIFE da Geórgia, que proíbe a maioria dos abortos após aproximadamente seis semanas de gravidez quando "atividade cardíaca fetal pode ser detectada". O governador Brian Kemp assinou a lei em 2019, mas ela só entrou em vigor após a derrubada de Roe v. Wade pela Suprema Corte em 2022.

Segundo a emissora WXIA-TV de Atlanta, "o plano agora é manter Smith viva até que os médicos acreditem que o bebê possa sobreviver fora do útero, provavelmente com 32 semanas de gestação". Isso significaria mais 10 semanas conectada aos aparelhos.

Há divergências sobre a interpretação da lei. O gabinete do Procurador-Geral da Geórgia afirmou que "não há nada na Lei LIFE que exija que profissionais médicos mantenham uma mulher em suporte de vida após a morte cerebral. Remover o suporte de vida não é uma ação com o propósito de interromper uma gravidez".

Por outro lado, Ed Setzler, senador estadual republicano que patrocinou o projeto de lei em 2019, considera "completamente apropriado que o hospital faça o que puder para salvar a vida da criança [...] Acho que esta é uma circunstância incomum, mas acho que destaca o valor da vida humana inocente. Acho que o hospital está agindo apropriadamente".

A mãe de Smith expressou sua angústia. "Ela está respirando por máquinas há mais de 90 dias. É uma tortura para mim. Vejo minha filha respirando, mas ela não está lá. E o filho dela — eu o levo para vê-la". Ela também manifestou preocupação com a saúde do bebê, pois os médicos informaram que ele tem líquido no cérebro.

"[Adriana] está grávida do meu neto. Mas ele pode ser cego, pode não conseguir andar, pode não sobreviver depois de nascer", disse a mãe de Smith à WXIA-TV. Ela também lamentou: "Esta decisão deveria ter sido deixada para nós. Agora ficamos imaginando que tipo de vida ele terá — e seremos nós que vamos criá-lo".

Repercussão

O caso de Adriana Smith provocou reações intensas nas redes sociais. Usuários do TikTok e outras plataformas questionaram as implicações éticas e legais da decisão médica tomada no hospital da Geórgia.

Jennifer Comstock, usuária do TikTok que se identificou como mãe de um filho com morte cerebral cujos órgãos foram doados, compartilhou sua experiência. "Sou mãe de um filho com morte cerebral cujos órgãos foram doados. As pessoas precisam entender como é manter um corpo com morte cerebral vivo."

Comstock explicou que permaneceu com seu filho por dois dias no hospital. "Então fiquei naquela cama de hospital com ele por dois dias, porque apesar do fato de ele estar legalmente morto, aquele era meu bebê. [...] Durante aqueles dois dias, a quantidade de intervenções que tiveram que fazer para manter o corpo do meu filho foi inacreditável. Obviamente, ele estava em um ventilador, mas você também não consegue regular sua própria frequência cardíaca. Você não consegue manter sua própria pressão arterial. Eles estão dando todos os tipos de medicamentos", disse.

Comstock destacou a diferença crucial entre seu caso e o de Smith. "Meu filho queria ser doador de órgãos, e foi por isso que continuamos com isso. E meu filho salvou vidas. Mas acho que vocês não entendem. Esta mulher não está em estado vegetativo; ela não está em coma. Ela está morta. Seu corpo não está funcionando. Seu cérebro não está produzindo os hormônios necessários para sustentar uma gravidez", acrescentou.

Grace Wells, outra criadora de conteúdo no TikTok, publicou um vídeo intitulado "O que significa nascer de um cadáver?", onde afirmou: "Adriana Smith merece descansar. Sua família merece paz. A humanidade merece segurança contra nascimento por cadáver."

Wells questionou: "Você acha que uma pessoa com morte cerebral apenas não está consciente e seu corpo está funcionando e então seu corpo vai simplesmente desenvolver o bebê de qualquer maneira? Não é isso que está acontecendo." Ela repetiu duas vezes: "Não é pró-vida forçar uma criança a nascer de um cadáver."

Um comentário que recebeu 33,8 mil curtidas no TikTok afirma: "They are experimenting with her" ("Estão experimentando com ela"). Outro, com 81,7 mil curtidas, menciona: "Experimenting on a Black woman's body is inhumane" ("Experimentar no corpo de uma mulher negra é desumano").

Um usuário escreveu em comentário que recebeu 47,5 mil curtidas: "É tão doentio. Também penso sobre o trauma e a dívida médica que estão impondo à pobre família dela." Outro destacou que "mulheres grávidas da Geórgia parecem pertencer ao estado, não a si mesmas."

Fonte: O Tempo

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por