CASO

Presidente da Fundação nega polêmica com exposição de nudez em Uberaba

Caso tomou grandes proporções após a chegada do vereador Fernando Mendes no espaço, que estava fechado e controlado por seguranças

Luiz Henrique Cruvinel
Publicado em 07/06/2023 às 11:04Atualizado em 07/06/2023 às 11:05
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Exposição "Meu Corpo, Minha Morada" (Foto/Divulgação)

A exposição de dois quadros artísticos na galeria Raquel Machado, na Fundação Cultural de Uberaba (FCU), gerou polêmica nas redes sociais, na noite desta terça-feira (6). Com o tema “Meu Corpo, Minha Morada”, a composição formada pelo artista Ricardo Coelho, professor da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ), trazia duas ilustrações com nu artístico dele, da esposa e dos filhos. Ao tomar conhecimento da exposição de nudez, o presidente da FCU, Cássio Facure, solicitou ao artista a remoção das imagens, que foi acatada. Contudo, antes que a medida se concretizasse, as imagens acabaram se tornando públicas a partir da presença de vereadores no local. 

Em entrevista à Rádio JM, nesta quarta-feira (7), o presidente da FCU, Cássio Facure, explicou que a escolha dos artistas, e consequentemente das exibições na galeria Raquel Machado, passa por uma junta de profissionais da arte, selecionados a nível nacional em um edital, com comprovação de currículo e de entendimento sobre as nuances artísticas. Um dos participantes é o uberabense Hélio Siqueira, uma das referências artísticas na cidade e detentor de notório saber, como explica Facure. 

“A nossa galeria é ocupada por artistas que trazem a exemplificação de várias artes para melhoramento e convívio artístico com artistas locais, dando norteamento, funcionando como boa exemplificação e aplicação de técnicas artísticas. O artista Ricardo Coelho é um professor da USFJ e foi classificado no edital na quarta colocação. Já tivemos outras ocupações da galeria. Até a semana passada estava sendo ocupada pelo Alexandre Martins, um artista renomeado da nossa cidade vizinha Uberlândia. E agora, seria com a exposição do Ricardo Coelho. Essas ocupações são avaliadas por uma junta de artistas, e os interessados são pontuados e classificados”, esclareceu Cássio. 

Desta forma, a exibição do “Meu Corpo, Minha Morada” foi previamente aprovada por essa comissão, mas o conteúdo não passou por revisão pelo governo municipal. A exposição do artista Ricardo Coelho já sido apresentada em outras cidades, e com a classificação indicativa de 14 anos. 

O presidente da Fundação tomou conhecimento das duas obras com nu artístico por volta de 11h30 desta terça, a cinco horas da abertura da exposição. Neste momento, entrou em contato com o presidente da comissão de Cultura da Câmara de Uberaba, vereador Pastor Eloísio, que teria o orientado a fechar a exibição. “Já havia sido tomada a decisão de tirar os dois quadros ou encerrar a apresentação desde que tomamos ciência. Fizemos a consulta aos agentes públicos que podiam nos auxiliar, consultei o presidente da comissão de cultura da Câmara, vereador Eloísio, e ele teve ciência de tudo. Ele achou inconveniente, sugeriu que não fosse exposta. Analisei a situação e chegamos à definição de abordagem com o artista. Foi feita a abordagem e convencemos que a retirada das duas obras seria o melhor para todos. Temos que lembrar que Uberaba ainda é uma cidade conservadora, e existem questionamentos. Ele entendeu a situação, lamentou, mas entendeu”, pontuou. 

O artista Ricardo Coelho foi chamado e foi sugerido que tirasse os últimos dois quadros, que traziam ele e a família dentro de uma caixa incompleta, nus. Depois da conversa, a decisão foi por manter a exposição, mas sem as duas últimas obras. 

Porém, desde que decidida a retirada dos quadros até a abertura da exibição, e mesmo depois da presença do vereador Eloísio Santos, ainda estavam na galeria os dois retratos. Neste momento, por volta de 17h30, o presidente da Câmara Municipal, Fernando Mendes, chegou à Fundação e publicou nas redes sociais o conteúdo, que considerou um “desrespeito”. Aparentemente, ele não tinha conhecimento da decisão de mudança.  

Apesar do prazo de tempo entre a tomada de decisão e a efetiva retirada das obras, Cássio Facure afirma que o espaço estava fechado para a organização na exposição, sendo proibida a entrada e circulação de pessoas, sobretudo crianças e adolescentes. “Estivemos lá e não retiraríamos sem a autorização do artista. Acabamos conversando que, se ele definisse para não ter a retirada, iríamos suspender a exposição. Uma determinação minha, usando a minha prerrogativa de presidente. A obra estava sendo retirada do contexto da exposição, por volta das 17h30, depois da conversa com o artista. Neste momento, houve a interferência do presidente Fernando Mendes, na intenção de tentar ‘defender a população’. Na estrutura da exposição fechada, que seria aberta apenas 18h30, ele fez a filmagem, na hora de retirada das obras, e a polêmica se instalou nesse momento que publicizou nas redes sociais essa possibilidade”, garantiu. 

Isso foi suficiente para gerar polêmica nas redes sociais e envolver grande parcela da população de Uberaba. “Enquanto eu estiver representando parte de uma sociedade que acredita naquilo que defendemos, estarei buscando providências para que nenhuma pornografia pública seja tratada sob normalidade. Não é questão de ideal. É questão de princípio humano”, publicou o vereador Fernando Mendes. 

A exposição ainda está disponível, com visitação gratuita na galeria Raquel Machado, até o dia 7 de julho. Porém, sem os dois quadros. 

Censura. Também nas redes sociais, Ricardo Coelho considerou a ação como uma censura, e lamentou a “limitação intelectual” do presidente da Câmara. Além disso, o artista considerou a atitude de Fernando Mendes como hostil, tanto com as obras, quanto com os funcionários da Fundação Cultural. 

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