Delegado-chefe da PC e comandante da PM relatam aumento na procura por orientações em Uberaba e defendem que toda ameaça, por menor que pareça, deve ser levada a sério
Após o ataque que vitimou a adolescente Melissa Campos, no dia 8 de maio, a segurança nas escolas de Uberaba virou tema de preocupação entre pais, educadores e autoridades. Em entrevistas à Rádio JM, o delegado-chefe da Polícia Civil, Felipe Colombari, e também o comandante da 5ª Região de Polícia Militar, Coronel PM Rodrigo Wolf, relataram que foram procurados por diversas instituições de ensino em busca de orientações e reforço na prevenção de novas tragédias.
"Várias escolas procuraram a Polícia Civil, principalmente para saber o que poderia ser feito para aumentar ainda mais o rigor da segurança das escolas. A gente orientou em alguns casos, deu sugestões em outros. Em alguns a gente simplesmente validou: 'realmente os mecanismos que vocês possuem hoje já é aquilo que é esperado'. Houve sim uma preocupação. Uma mudança de paradigma. Uma mudança de pensamento", comentou Colombari.
Mas o delegado é enfático em lembrar que é preciso que toda a comunidade esteja unida na mesma preocupação. E que as escolas procurem as forças de segurança sempre que houver qualquer sinal de alerta. Questionado, ele deixa claro que é preciso sempre levar a sério toda e qualquer situação que suscite preocupação, dúvida ou medo. "A escola precisa parar de achar que é uma bolha e que resolve todo problema ali dentro. 'Ah, vai pegar mal para o nome da escola dizer que um coleguinha ameaçou outro com a tesoura'. Pelo contrário, pegaria mal se a escola abafasse a questão. Eu colocaria meu filho numa escola dessas de olhos fechados, se ela tomasse providência. Se chamasse os pais, se oficiasse a Polícia e o Conselho Tutelar. Agora aquela que abafa, aquela que segura, não merece nosso respeito nem nosso crédito", acrescenta.
A Polícia Militar também foi procurada por membros da sociedade civil em busca de ajuda no que tange à segurança das escolas de Uberaba. "Nós fomos procurados por algumas escolas e nós levamos todo o protocolo que a Polícia Militar tem, tanto no policiamento escolar como nas patrulhas de trânsito. Sabemos que nós não temos efetivo para estar em todas as escolas ao mesmo tempo. Falamos também sobre o Proerd, que deixa uma sementinha e, às vezes, um colega pode, naquilo que é levado no dia a dia, dar um start e levar a quem de direito para poder evitar muita coisa", elenca o comandante da 5ª RPM.
Coronel PM Wolf acrescenta que o Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) é uma iniciativa da Polícia Militar que tem profissionais qualificados também para identificar situações que poderiam passar despercebidas. "Nossos militares que são preparados para o Proerd vão com o programa educacional de resistência às drogas e violência, mas eles têm um olhar, pelas características de cada um, de buscar naquela localidade, naquela escola que eles estão, e levar para a direção alguma coisa que é notada. Nesses locais que nós estamos sempre temos frutos que colhemos com o tempo", acrescenta.
O delegado-chefe da Polícia Civil, Felipe Colombari, ainda pontua que episódios como o de Melissa começam a repercutir na sociedade e devem provocar reação, sobretudo, dentro de casa. "Às vezes a gente acha que está educando o filho da forma correta. Veja, é um menino que frequentava a igreja, não respondia pai e mãe, era primeiro aluno de sala de aula e de repente você vê acontecer uma tragédia", analisa Colombari.
Ele acrescenta que a atenção prestada aos filhos vai além de olhar bolsas e mochilas. "O pai não pode olhar a bolsa de filho. Ele deve. Tem que ver o que está levando, como que estão as redações dele, se ele está cumprindo os deveres dentro de sala. Acompanhar sim! Existem vários mecanismos em que a gente pode evoluir. Que esse triste episódio, essa tragédia que aconteceu, que ela sirva para que Uberaba amadureça cada vez mais", pontua.
Vale pontuar que um dos menores envolvidos na morte de Melissa Campos é filho de policial militar da reserva. O fato levantou dúvidas sobre como um adolescente criado com noções claras de segurança e hierarquia poderia se envolver em um episódio como este. Mas Coronel PM Wolf afirma que se trata de uma fatalidade. "Acredito que isso é a personalidade de cada ser humano. Nós temos personalidades no mundo inteiro que tenham uma conduta ou posição, da qual se desvia. Nós procuramos tratar nossos filhos da melhor forma. Mas na própria casa da gente, os filhos com a mesma criação saem com personalidades distintas. Acho, realmente, que isso foi uma fatalidade, um ponto fora da curva que nós temos que trabalhar e esquecer esse 8 de maio", finaliza.
O papel da Polícia Militar no episódio vai muito além disso, no entanto. A única prova conhecida sobre a motivação do crime é o depoimento do militar que realizou a apreensão do primeiro rapaz, ainda no mesmo dia do crime. Segundo ele, o jovem teria dito que matou Melissa por inveja de sua felicidade. Nenhuma outra versão foi apresentada sobre o caso.
Mas a dúvida que fica em muitos pais é: o que seria um sinal capaz de levantar suspeitas? E quanto a isso, até mesmo Colombari pontua que é uma tarefa difícil, mas não impossível. Normalmente maior atenção é dada aos alunos "problemáticos", sem se perceber o que escondem os quietinhos. Por isso, o desafio é constante. Dentro e fora da sala de aula.