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Edson Gonçalves Prata e a edição de livros históricos de Uberaba

Guido Bilharinho
Publicado em 27/04/2024 às 18:51
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Hildebrando Pontes escreveu a História do Futebol em Uberaba em 1922, deixando-a manuscrita a lápis em cadernos escolares, e terminou a História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central nos princípios da década de 1930. Antônio Borges Sampaio elaborou no século XIX série de ensaios, alguns publicados em jornais e periódicos do tempo e outros permanecendo inéditos no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, para onde, previdentemente, os remeteu. José Mendonça divulgou diariamente no Lavoura e Comércio, em 1956, sua História de Uberaba.

Em fins dos anos de 1960, quando, então, circulava o Suplemento Cultural do Correio Católico, todas essas obras ainda não estavam publicadas em livro. Autores e seus descendentes, familiares, amigos, entidades públicas e privadas não conseguiram editá-las ou não se preocuparam com isso.

Nessa época, no entanto, sobreveio feliz confluência de objetivos e espírito público em torno do propósito comum de dar a lume esses trabalhos.

Coincidentemente, configurou um triângulo – sempre o triângulo. Num vértice, a editoria do referido Suplemento. Em outro, Edson Gonçalves Prata, então na secretaria e logo depois na presidência da Academia de Letras do Triângulo Mineiro. O terceiro, os órgãos públicos municipais – Executivo e Legislativo – posteriormente contatados e, de pronto, altamente receptivos à ideia, propiciando sua materialização.

Formando e atuando no eixo dessa tríade, unindo-a, soldando-a, ativando-a, animando-a: Edson Gonçalves Prata. Por essa razão, num certo sentido, senão em todos, o ponto mais importante desse tripé.

É certo que sem ele, sua postura, atuação, senso prático, entusiasmo e prestígio, tais livros não seriam editados à época e, quase certamente, ainda não o teriam sido. Do lado do Suplemento Cultural, esgotar-se-ia em suas páginas a descoberta da obra de Hildebrando Pontes em esparsa e eventual divulgação de textos e trechos, como, aliás, efetuado. Da parte do município nenhuma iniciativa seria cogitada ou tomada nesse sentido. Sua participação, no caso, somente se concretizou após reivindicada e incentivada por Edson Prata e graças à clarividência de seus então dirigentes. Tanto que esse mesmo órgão público, três lustros antes, em plena comemoração do centenário de elevação de Uberaba à categoria de cidade, mesmo detendo os originais e os direitos autorais da obra máxima de Hildebrando Pontes, não a editou. Nem a ela, nem a nenhuma outra.

A partir, pois, dos fins da década de 1960, os livros foram surgindo: História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central (1970 – quarenta anos após seu término); Uberaba: História, Fatos e Homens (1971 – com diversos ensaios e artigos ultrapassando um século de existência); História do Futebol em Uberaba, também de Hildebrando (1972 – exatamente meio século depois da elaborada), e História de Uberaba, de José Mendonça (1974 – dezoito anos após sua divulgação em jornal), todas com selo da Academia de Letras e, o primeiro, com verba específica da Prefeitura cobrindo metade dos custos e os demais com recursos da Bolsa de Publicações do Município especialmente criada para essa finalidade.

Além desses, Edson Prata, à frente da Academia, promoveu a edição de outros livros, a exemplo da História da Medicina em Uberaba, de José Soares Bilharinho, cuja elaboração incentivou e apoiou, sendo seus três primeiros volumes, em 1980, 1982 e 1983, publicados pela Academia com recursos da Bolsa de Publicações do Município.

Registre-se, pois, essa alta e relevante contribuição à divulgação dos estudos históricos locais até essa ocasião ignorados pela sociedade uberabense e suas instituições públicas e privadas.

Indispensável lembrar também, mesmo que de passagem, que a atividade editorial de Edson Prata não se restringiu aos livros históricos. Desdobrou-se ainda por outros setores, como, pouco tempo depois, no desempenho de igual papel na criação, solidificação e expansão da denominada “Escola Processual do Triângulo”, responsável, entre outras realizações, pela elaboração e edição de série de livros jurídicos e das notáveis revistas periódicas especializadas, Revista Brasileira de Direito Processual e Revista de Crítica Judiciária, de nível e circulação nacional e internacional.

 Guido Bilharinho

Advogado em Uberaba e editor das revistas culturais eletrônicas Primax (Arte e Cultura), Nexos (Estudos Regionais) e Silfo (Autores Uberabenses)

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