Vivemos um momento que pode ser considerado como uma fase culta da civilização
Vivemos um momento que pode ser considerado como uma fase culta da civilização. Somos chamados de homens civilizados. Tomamos o termo culto no sentido de avanço científico. Nietzsche já matou Deus e agora estamos conquistando as galáxias a milhares de anos-luz afastadas de nós. Somos uns semideuses, narcísicos, enamorados de nossa inteligência.
Ainda não descobrimos que cultura é uma coisa e “sabedoria” é outra. Os antigos, milenares, não eram cultos, eram apenas sábios. A cultura nem sempre nos ensina a viver bem. A sabedoria é a arte de viver bem. Uma coisa é sobreviver, outra é viver bem. Viver bem é viver “limpo”.
Foi uma leitura de Mateus que me provocou tais reflexões. Vejam: “A lâmpada do corpo é o olho. Se seu olho for limpo, seu corpo será iluminado. Se seu corpo for sujo, também seu coração será sujo”. (Mt 6,22)
Experimente tomar um espelho. Você estará frente a frente com você mesmo. Não importa se seu rosto é bonito ou feio, se é jovem ou senil. Não importa. A verdade é que “quem” está atrás daquele rosto é você. E se possuir ainda alguma sensibilidade, você perceberá que eles dizem alguma coisa. Seus olhos levam você ao fundo de você mesmo. Revelam quem é você. Levarão você para os aposentos mais fechados de sua consciência. Limpos? Sujos? É provável que você não se sinta bem lá dentro. Há impurezas amontoadas nos desvãos mais secretos. Você descobrirá ódios, rancores petrificados, antipatias invencíveis, egoísmo, desvios de suas atitudes e comportamento. Estou limpo? Pode ser que você descubra que seu coração está doente. Contrariando a natureza das coisas, talvez você descobrirá, assustado, que você pensa com seu coração e seu coração se reflete em seus olhos. A verdade é que nosso relacionamento de uns com os outros depende de nosso coração. Nossas convicções dependem de nosso coração, nossas ideias, nossa maneira de ver o mundo, de julgar os outros, de aceitar ou não os outros. Pode ser que você não aceite que o outro seja diferente, que ele possa pensar diferentemente de você. Por que você se acha sempre certo? Por que você se coloca sempre como ponto de referência? Provavelmente sua razão lógica esteja afogando seu coração. Os olhos vão dizer a mim, a você, que nós somos medularmente racionais. Olhamos as coisas apenas pelo lado da lei, civil, moral ou religiosa. É violentar a consciência exigir que todos pensem do mesmo jeito.
Não podemos nos esquecer da palavra daquele que deixou um aviso bem clar “Eu não vim trazer as leis, os ritos, os regulamentos. Vim trazer a compaixão, a tolerância, a compreensão”.