Sei que você, meu caro prefeito, tem mais o que fazer. Assim mesmo (quem sabe?), você nos dará o privilégio de uma visita? Você sabe, moro na rua Luiz Guaritá.
Sei que você, meu caro prefeito, tem mais o que fazer. Assim mesmo (quem sabe?), você nos dará o privilégio de uma visita? Você sabe, moro na rua Luiz Guaritá. Não é bem uma rua. É uma ruela sem saída e quase sem entrada, pois é preciso que se deem muitas voltas para chegar até aqui. Sua visita não é em minha casa, seria pedir muito. A visita é só na rua, neste bequinho abandonado, nem sei se você já ouviu falar nele.
Atrevo-me a dar-lhe algumas orientações. Estacione seu carro na avenida Santos Dumont, em frente ao Hospital Santa Lúcia e suba a pé. Por precaução, suba pelo meio da ruela, isto porque subir pelas calçadas é quase impossível. Você teria que enfrentar degraus perigosos, rampas incríveis (não sei se há alguma lei que regule a construção dessas rampas), calçadas escorregadias e traiçoeiras. Suba pelo centro do beco. Mesmo assim, você vai correr dois riscos. Um, o de ser atropelado. O outro é o de equilibrar-se naquele asfalto (?), que já se transformou em cascalho e constitui ameaça para os transeuntes, principalmente para nós, os mais idosos. Para um idoso, subir com certa pressa é suicídio na certa. O nome do beco é Luiz Guaritá. É o avô e não o Neto. Também esse Neto nada fez para atenuar nossos dissabores. Por isso, esqueça as rivalidades antigas e cuide de nós. É bom também que você tome cuidado com a sujeira. Até que, de tanto a gente reclamar, tem aparecido duas varredoras duas vezes por semana. Coitadas, naquele sol do meio-dia, elas chegam lá em cima do morrinho mais mortas que vivas. Mas, como no fim do beco há algumas árvores que fornecem boa sombra, elas (coitadinhas!) pedem-nos um copo com água, repetem “mais um” e depois deitam naquelas sombras e tiram uma soneca. Elas têm razão. Também, ninguém é de ferro.
Uma vez, apareceu aqui, muito sorridente, um funcionário da Prefeitura. Sugeriu que fizéssemos um requerimento pedindo asfalto, são só uns cinquenta metros, não ficaria caro. As despesas seriam por nossa conta, a Prefeitura só pagaria o centro da rua, isto é, a menor parte. Ninguém mais apareceu e não mais se falou no assunto.
Olhe, Anderson, o lugar aqui é ótimo para se morar. Mas seria ainda melhor se você desse uma olhadinha por estes lados de cá. Noventa por cento dos moradores votaram em você e achamos que você está fazendo um bom governo. Quem sabe você, embora com atraso, se tornaria um Papai Noel para nós neste ano de 2009? Afinal, barba branca você já tem. O resto não é difícil. É só pegar a caneta e aprovar o início das obras.