ARTICULISTAS

Ter esperança

O ser humano precisa descobrir o milagre que é cada amanhecer, com sons de vida

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 05/02/2011 às 19:57Atualizado em 20/12/2022 às 01:51
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O ser humano precisa descobrir o milagre que é cada amanhecer, com sons de vida que se abre e tons de respirar da aurora; o milagre que é cada anoitecer, com o embalo das folhas, amortecendo os desencontros do dia e ofertando o cerrar das pálpebras para novo abrir-se em esperanças.

Não se concebe, nem se pode conceber, a vida sem esperança. Porque precisamos ter esperanças. Esperanças singelas, tecidas no anonimato e na simplicidade, ou esperanças mais ousadas e tentadoras. Mas precisamos ter esperanças.

Lembro-me do poema de Vladmir Maiakovski, O Sol Existe: “Ainda que seja noite/ o sol existe/ por cima de pau e pedra/ nuvens e tempestades/ cobras e lagartos/ o sol existe./ Ainda que tranquem o nosso quarto/ e apaguem a luz/ o sol existe.” O sol é essa esperança que se aninha dentro de nós. Se a situação do país é calamitosa, no íntimo de cada brasileiro, ainda que pálida e acanhada, a esperança balbucia que melhores dias virão. Se a doença mina o organismo do ser humano, o desânimo, às vezes, é sacudido pela existência de um remédio inovador e, em última instância, pela esperança do milagre. Porque a vida se faz de esperas. O dia esperando a noite, a noite esperando o dia, o sol aguardando a lua, a lua aguardando o sol, o inverno destilando seu cinza no aguardo da primavera, a primavera engravidando flores, na expectativa do verão e, assim, sucessivamente.

O que seria do ser humano se a cada revés se assentasse na calçada, descrente e triste, como se o fim de uma ilusão fosse, também, o fim de todas as possibilidades? São esses inúmeros possíveis que, abrindo o leque das probabilidades, projetam a alma humana para novas pesquisas, novos encontros, novos diálogos, novas amizades, novas conquistas, enfim, novas esperanças. Viver o presente, sim, mas sem fechar os horizontes, como se o homem apenas, com seus sucessos ou fracassos, fosse o limite de tudo ou abarcasse, em seus parâmetros, uma realidade absoluta e irretocável.

A contingência do ser humano em face de si mesmo e do outro exige que seu processo de vida seja dinâmico em busca da complementação de suas lacunas.

Ter esperança é buscar o preenchimento dessas lacunas, dessas falhas, daquilo que necessita complementação, para que o indivíduo possa, pelo menos, ansiar a completude.

O homem precisa de tal procura. Caso contrário, estará morto por dentro, deixando de conduzir seu destino, jogado para onde o vento mais forte o leve.

NOTA: texto do livro Temas do Cotidiano.

 

(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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