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Senhora da Abadia

Santuário de Nossa Senhora da Abadia. Daquela que subiu aos céus, em direção à Casa do Pai: Abba

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 21/08/2010 às 19:18Atualizado em 20/12/2022 às 04:44
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Santuário de Nossa Senhora da Abadia. Daquela que subiu aos céus, em direção à Casa do Pai: Abba.

Uma das missas durante a novena, fieis atentos e fervorosos. Muita gente.

Penso sobre o que trazia cada um ao templo que convidava à reflexão, à oração.

Olho à minha volta. Olhares suplicantes, muitas graças a serem alcançadas: uma doença, a necessidade de um emprego, distanciamento nas famílias, exposição de mágoas necessitando serem dissipadas, medos e incertezas, buscando ancoradouro de paz; olhares agradecidos, parecendo estender-se em direção à Senhora da Abadia, na lembrança dos bens alcançados, talvez a recuperação de um filho, arrancado do mundo das drogas, talvez a volta de um alguém querido, distanciado no tempo e no espaço, talvez o reencontro com os próprios conflitos, agora resolvidos, talvez a recuperação da fé, julgada já perdida.

Olho para trás: e vejo no banco, bem próximo ao meu, aquela moça chorando ininterruptamente, as mãos cobrindo o rosto, possivelmente na vergonha de expor as fragilidades, ou no receio de não conseguir superar o que lhe aflige a alma. Levanta-se, dirige-se ao lado externo da igreja, demora alguns minutos e retorna, o rosto ainda mostrando sinais das lágrimas e da tristeza ou preocupação lhe que ia na alma.

Agora os cânticos sacros inundam de paz todo o recinto, levando cada um a interiorizar-se, ao encontro dos próprios pensamentos.

De repente, ela, uma frágil moça, de aspecto e roupa um tanto estranhos, chapéu moldurando-lhe o rosto, pervaga pelo recinto e, mais de repente ainda, ocupando o cruzamento central, inicia uma dança calma, os braços parecendo querer atingir o infinito, as mãos em volteios leves, ao ritmo da música: é uma visão de paz, uma forma de oração que precisava ser estendida a quantos ali estivessem, para encontrar, nos que a olhassem, consonância com sua manifestação de amor à Senhora da Abadia. Rissem dela, não se importaria: os movimentos queriam louvar a Mãe de Jesus, talvez para que Ela pudesse embalar o Filho ao colo, ao som do canto abarcando o espaço, e ao compasso dos gestos leves e serenos.

Neste momento, a Mãe de Deus adentra o templo, em direção ao altar principal: todos os olhares se voltam na direção daquela que subiu aos céus, para a Casa do Pai; olhares de súplica, de gratidão, de louvor, a moça logo atrás de mim, chorando ainda, talvez querendo sensibilizar com mais intensidade o coração da Mãe de todos nós. Em outro lugar, os gestos de dança intensificam o semblante de paz da moça, para mim, sem nome, representando, talvez, todos aqueles que, por seu intermédio, gostariam de dirigir, com seus pendores, louvores e graças àquela que, sendo rainha, jamais deixa de ser Mãe.

Lá do altar, a Virgem, com certeza, no meio sorriso que lhe ilumina o rosto, conhece o pensamento de cada um que se dirige ao seu santuári conhece as dificuldades, as doenças, as mágoas, as necessidades, a gratidão; conhece o que vai na alma dos fieis, recebendo tudo de todos com a grandeza do coração de Mãe, para levar ao Filho, como medianeira de todas as graças, as vidas depositadas em suas mãos.

(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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