PSIQUIATRIA

Dia Mundial do Transtorno Bipolar: saiba como é feito diagnóstico e tratamento

Muito mais que apenas oscilações de humor, o transtorno provoca sérios impactos na vida dos pacientes

O Tempo
Publicado em 30/03/2024 às 13:17
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De manhã triste, à tarde feliz, à noite deprimido. Há quem pense que a característica de uma pessoa com transtorno bipolar seja essa. Mas não é bem assim - e muito menos tão simples de diagnosticar. Neste sábado (30), celebra-se o Dia Mundial do Transtorno Bipolar (World Bipolar Day – WBD), uma iniciativa da International Society for Bipolar Disorders pensada justamente para desmistificar ideias sobre a condição e conscientizar a população sobre transtorno que afeta até 5% dos habitantes no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A data foi escolhida por ser o dia de nascimento do pintor holandês Vincent Van Gogh, postumamente diagnosticado como provável portador do transtorno bipolar.

De acordo com a OMS, em 2019 o problema afetava cerca de 140 milhões de pessoas no mundo. A doença atinge mais os jovens, sobretudo entre os 15 e 25 anos. Contudo, o último estudo epidemiológico aponta para um pico tardio entre 45 e 55 anos. Trata-se de uma doença do cérebro que causa mudanças anormais de humor, energia e níveis de atividade, além de afetar a capacidade de levar adiante tarefas do dia a dia.

O psiquiatra e membro da diretoria da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP) Rodrigo Huguet explica que todo mundo tem alterações de humor motivadas pelo contexto das coisas. “Várias doenças psiquiátricas levam a alterações do humor, por exemplo, pacientes com déficit de atenção e hiperatividade, pacientes com personalidade borderline, pacientes com ansiedade, vários outros diagnósticos. Então, só ter oscilações do humor não quer dizer que a pessoa tenha transtorno bipolar”, diz.

“Para ter mesmo transtorno bipolar tem que ter as alterações de humor de forma sustentada. Quer dizer, para ter episódios de mania, de euforia, isso tem que durar pelo menos uma semana, ou de depressão, pelo menos duas semanas”, detalha.

O médico conta que o transtorno é classificado em dois. O tipo 1 é caracterizado por episódios de euforia, também chamados de mania, que duram pelo menos uma semana. “O paciente fica muito agitado, falando o tempo todo, com pensamento muito rápido, se achando muito, sem dormir, com muita energia, às vezes gasta muito dinheiro, é muito impulsivo, pode fazer dívidas, pode ter até sintomas psicóticos, delírios de grandeza. São casos que muitas vezes a pessoa até precisa ficar internada. Ela pode se colocar ou colocar outras pessoas em risco, e pode ou não ter episódios de depressão também”, enumera Huguet.

Já no transtorno do tipo 2, os episódios de depressão são mais comuns. “O episódio dura cerca de duas semanas, a pessoa fica triste, desanimada, angustiada, às vezes com pouco sono ou muito sono, às vezes sem apetite ou com muito apetite, com muitos pensamentos negativos, se sentindo derrotada, achando que não tem valor, achando que nada vai dar certo, e, às vezes, com pensamentos em suicídio”, diz. “No caso do transtorno bipolar tipo 2, que é a forma mais atenuada, a pessoa tem que ter episódios de depressão, que são mais frequentes, e os episódios de euforia são menos graves e são episódios mais curtos, de pelo menos quatro dias”, pontua.

“[O transtorno] não é coisa de momento que a pessoa tem hora que está mais alegre e tem hora que está mais triste. Não é isso. Tem que ser vários dias que a pessoa fica naquele estado muito exaltado, muito para cima ou muito para baixo”, frisa. Esses serão os comportamentos considerados na hora de traçar o diagnóstico.

Confira a lista de sintomas característicos em cada fase: 
Euforia

  • sensação de extremo bem-estar;
  • aceleração do pensamento e da fala;
  • agitação e hiperatividade;
  • diminuição da necessidade de sono;
  • aumento da energia;
  • diminuição da concentração;
  • euforia ou irritabilidade;
  • desinibição;
  • impulsividade;
  • ideias de grandiosidade e sensação de “poder”.

Depressão

  • alterações de apetite com perda ou ganho de peso;
  • humor deprimido na maior parte dos dias;
  • fadiga ou perda de energia;
  • apatia, perda de interesse ou prazer;
  • pensamentos recorrentes de morte ou suicídio;
  • agitação ou retardo psicomotor;
  • sentimentos de culpa ou inutilidade;
  • desânimo e cansaço mental;
  • tendência ao isolamento tanto social como familiar;
  • ansiedade e irritabilidade.

Diagnóstico e tratamento

De acordo com o Ministério da Saúde, o diagnóstico de transtorno bipolar é bastante difícil e pode demorar até dez anos para ser estabelecido devido a tratamentos equivocados, ausência de comunicação entre os profissionais envolvidos, desconhecimento sobre como a doença se manifesta, tanto por ser pouco conhecida quanto pela confusão dos seus sintomas com os de outros tipos de depressão, preconceito e auto estigmatização.

Uma vez diagnosticado, o transtorno bipolar deve ser tratado principalmente com medicações estabilizadoras do humor. “A principal delas é o carbonato de lítio, mas tem outros estabilizadores do humor, como remédios antipsicóticos, como a quetiapina, e também com alguns remédios anticonvulsivantes, que são usados como estabilizadores do humor, como ácido valproico e lamotrigina”, exemplifica Huguet.

“É preciso ter cuidado com os antidepressivos em pacientes com transtorno bipolar, eles têm que ser usados com critério porque o uso de antidepressivos pode levar a uma crise de euforia. Então, a depressão no transtorno bipolar muitas vezes é tratada com estabilizador de humor e não com remédios antidepressivos”, explica o médico.

Huguet frisa que é muito importante iniciar o tratamento o quanto antes. “Quanto mais episódios a pessoa tem de euforia ou depressão, a doença vai ficando mais grave, vai comprometendo mais a vida dela, vai tendo mais consequências nos relacionamentos, no trabalho, vai ficando com mais mais estigma, mais preconceito e vai adoecendo mais clinicamente, vai piorando o funcionamento cerebral, tendo mais doenças clínicas, como obesidade e problemas no coração”, diz.

Família

O transtorno bipolar é uma condição que impacta a vida da pessoa e dos familiares e precisa ser considerado uma condição clínica como qualquer outra doença. Inclusive, o apoio da família e dos amigos é de suma importância no processo de tratamento. “Em relação à família, é preciso não ter preconceito em relação ao paciente. Ele não tem culpa de ter essa doença. É uma doença como qualquer outra”, pondera Rodrigo Huguet. “Mas o paciente tem responsabilidade de se tratar e manter o acompanhamento, tomar os remédios regularmente, não abusar de álcool e manter hábitos saudáveis”, orienta.

Fonte: O Tempo

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