Quem é você? Quem você pensa que é? Você se identifica como outra pessoa?
Quem é você?
Quem você pensa que é?
Você se identifica como outra pessoa?
Você é o mesmo ou a mesma de anos atrás?
Em tempo de conexões virtuais imediatas, economia global e tecnologia sem limites, interessa saber ou perguntar quem sou eu? Claro que sim! Exatamente porque vivemos em uma época assim, é preciso retomar tal questão. A política, a economia, as conexões virtuais, em todo o mundo, colocaram os seres humanos diante de novos desafios de convivência.
Quem é você?
Perante a Constituição, você é um cidadão com direitos e deveres; para o mercado, um consumidor; para qualquer loja, um cliente a atender; para a publicidade, um indivíduo a ser atingido; para uma empresa, um recurso para ser administrado; para a Receita Federal, um contribuinte a ser tributado...
Quem é você?
Você é muito legal para algumas pessoas e insuportável para outras. É uma mãe, filha, amiga, namorada. E, sendo a mesma, você é alguém ao mesmo tempo diferente, em cada uma dessas situações.
A expressão “ser alguém” traz em si uma ideia de permanência que, na língua portuguesa, pode ser corrigida, acrescentando uma perspectiva temporal, pela expressão “estar alguém”. As experiências do cotidiano desafiam o indivíduo a se reorganizar constantemente, seja reafirmando seus valores, seja modificando-os. Novas situações vividas podem colocar o indivíduo diante de desafios que o transformam, revelando capacidades, medos, potencialidades e dificuldades desconhecidos pela própria pessoa até então. Diante de um evento novo, o “ser” de um instante atrás pode revelar atitudes completamente novas, tornando-se outro “eu”. Isso não significa necessariamente uma ruptura total com o passad na dinâmica da existência humana há espaço tanto para mudanças quanto para continuidades, e nem sempre um evento traumático é a causa de uma mudança no indivíduo. Ao contrário, eventos cotidianos podem ser mais reveladores de quem se é do que os grandes acontecimentos.
As mudanças traumáticas e repentinas certamente podem ser percebidas com mais clareza do que as alterações cotidianas, mas o fato de algo acontecer em escala micro não o torna menos importante na montagem da complexidade do ser humano. Essas transformações ficam mais fáceis de perceber quando aumentamos o intervalo de tempo. Comparar meu “eu” de hoje com o de ontem não tende a revelar mudanças muito drásticas – salvo se aconteceu algo excepcional nesse período.
No entanto, quando se compara o “eu” de hoje com o de dez anos atrás, as transformações ficam mais claras. Se você comparasse o eu de hoje com o “você” de dez anos atrás, o que aconteceria? Orgulho? Vergonha? Nesse contexto, dois elementos chamam a atençã você é uma pessoa completamente diferente da que era – e, ao mesmo tempo, mantém alguns traços de antes. Você é mesmo você?
(*) Psicóloga clínica