Não sei. Criam mitos, inventam purificações, montam teorias. Continuo não sabendo
Não sei. Criam mitos, inventam purificações, montam teorias. Continuo não sabendo. Minha única saída é de que estou nas mãos de Deus. Creio que Ele é acima de tudo Pai. Um Pai que me ama. Não sou arrastado por um carma inexorável que nada me diz e me castiga. Seria injustiça ser castigado sem saber por quê. Não sou castigado sem saber por quê. Para dizer a verdade, nem gosto de pensar nisso nem sei por que estou escrevendo sobre coisa tão complicada. Quem sou eu, em minha pequenez, para desvendar os mistérios de Deus? Por isso é que, ao deitar-me, minhas últimas palavras sã “Pai, toma conta de mim”. A partir daí, durmo tranquilo.
A Bíblia fala em “pecado original”. É bom saber que Adão e Eva não são personagens históricas. São “estórias”. São mitos dos quais se serve o narrador para tentar uma explicação. A criação do universo e do homem, na Bíblia, não são fatos científicos. São criações humanas. Fim. Não sou nenhum fundamentalista.
O fato é que o mal que se revela de mil modos é presença constante na vida de todos nós. Sofrimentos morais, doenças, dor, roubos, morte, homicídios, violências, terrorismo, carnificinas, pontilham nossa tão difícil caminhada. Os Gulags, Auschwitz, Kosovos, Inquisição, Cruzadas, torturas, escravidão, racismos, neocolonianismo, agressões à Natureza, são violências de todos os dias. Entram pelas nossas portas, sem pedir licença e perturbam nossa paz. O homem não é nenhum anjo. Nasce “neutro”. É preciso ser educado. Embora sejamos dotados de uma consciência capaz de distinguir entre o bem e o mal, não deixamos de carregar a pesada herança de nossos instintos animais. É bom lembrar que nossa estrutura genética é herdada de animais que são chamados inferiores. O número de genes de um homem é quase igual ao de um chimpanzé. Trazemos no mais íntimo de nós mesmos as marcas de nossas origens biológicas. Só os fundamentalistas negam isso. O próprio Papa João Paulo II afirmou que não podemos negar mais a veracidade científica da evolução humana. O próprio apóstolo Paulo se queixava de que via o bem que devia fazer e, no entanto, fazia o mal que não devia praticar. É a nossa condição humana. Uma tragédia. Somos tentados para a prática do mal, mas, por outro lado, nossa consciência nos mostra os caminhos do Bem. Se muitos praticam o mal, se muitos constroem o Reino do Mal, muitos outros lutam desesperadamente para estabelecer no mundo o Reino de Deus, um relacionamento de amor, de solidariedade, de compaixão, de perdão, de serviço desinteressado, de acolhida, de tolerância, de justiça.
O importante é não perder a esperança. Se é grande o número dos que fazem o mal, é muito maior o número dos que praticam o bem. Ainda bem.
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro