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Perguntas inconvenientes

Em visita a Nova Orleans pela primeira vez depois de tomar posse, o líder americano Obama enfrentou o que chamamos de saia justa durante uma reunião com moradores

Mário Salvador
mariosalvador@terra.com.br
Publicado em 20/10/2009 às 20:18Atualizado em 20/12/2022 às 09:59
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Em visita a Nova Orleans pela primeira vez depois de tomar posse, o líder americano Obama enfrentou o que chamamos de saia justa durante uma reunião com moradores. Foi questionado por Tyren Scott, um menino de nove anos: “Por que as pessoas odeiam você? As pessoas deveriam amá-lo. Deus é amor.” Obama foi pego de surpresa.

O presidente contornou a situação dizendo que, se foi eleito presidente, nem todos o odeiam. “Eu consegui um monte de votos” – disse ao menino. “É verdade que, se você assistir à TV ultimamente, parece que todo mundo está ficando com raiva o tempo todo. (...) Parte disso é o que se chama de política, e quando um partido vence, o outro partido sente que precisa cutucá-lo um pouco para mantê-lo nas pontas dos pés. Então, não se deve levar isso muito a sério. Eu sou um cara legal” – completou. Ao final, Tyren foi abraçado pelo presidente norte-americano.

Homens públicos devem estar preparados para surpresas como essa, pois nem tudo são flores na caminhada dos políticos. E imprevistos podem se tornar memoráveis, como que testando a sagacidade do homem público.

O presidente Lula, por exemplo, mantém-se alerta quando lida com a economia ou com fatos que possam atrapalhar a caminhada de sua já candidata ao Planalto em 2010. Se algo pode ser usado pela oposição ou pelo próprio eleitorado como mote para tirar votos dela, Lula se transforma.

Recentemente sua equipe econômica levantou a questão da falta de caixa para pagamento da restituição do imposto de renda aos contribuintes que têm esse direito. Já imaginando a repercussão do problema no cenário eleitoral, Lula deu a ordem: “Nada de protelar para 2010 o pagamento das restituições. Paguem já!” Como pagar, se não há dinheiro? Esse não é problema de quem manda, mas de quem deve obedecer à ordem do chefe.

Outra medida impopular derrubada pelo presidente Lula foi a taxação das cadernetas de poupança para depósitos acima de cinquenta mil reais. Ao perceber que o caldo poderia entornar no ano eleitoral, mandou sepultar a antipática medida.

Uma vez que ficou provado que o homem tem o controle da equipe econômica, alguém poderia fazer-lhe uma pergunta quando de sua visita a Uberaba nos próximos dias. Uma pergunta simples, como a que o garoto americano fez ao seu presidente. “Presidente Lula, por que o senhor odeia os aposentados?” Como homem que comanda a equipe econômica, o presidente Lula poderia dar uma ordem: “Façam as aposentadorias e pensões serem reajustadas pelos índices do salário mínimo.” Cumprida a ordem, os aposentadorias deixariam de perder o seu poder aquisitivo.

E outra ordem, taxativa: “Façam com que o valor das aposentadorias seja equiparado ao de quando o aposentado obteve esse benefício. Se a sua aposentadoria era de cinco salários, que tenha valor equivalente.” Ordens simples e justas. E não são medidas de favor, pois apenas irão repor o que foi perdido. Alguém arriscará a pergunta ao Presidente?

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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