Há uma palavra de Paulo de um sentido profundo e atualíssimo: “Contra spem in spe”. (Em tradução livre: “É preciso esperar contra toda a esperança”.) O Presidente Obama dedilha no mesmo ritmo
Há uma palavra de Paulo de um sentido profundo e atualíssim “Contra spem in spe”. (Em tradução livre: “É preciso esperar contra toda a esperança”.) O Presidente Obama dedilha no mesmo ritm “We can” (“Nós podemos”.) Está tudo se arrebentando, mas não podemos perder a esperança.
Há uma canção de Chico Buarque que desenvolve bem o assunt “Pedro Pedreiro”: esperando o sol, esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem, esperando a sorte, e a mulher do Pedro esperando um filho também, esperando, esperando, esperando... esperando o trem pra voltar pro Norte.
Estamos todos nós, hoje, vivendo essa história de esperança. Esperar que nosso Presidente cometa menos ratas. Esperando por reformas fundamentais, enrolados pela redenção do pré-sal, de pertencer ao grupo do G20. Esperando que os preços parem de subir, que a gripe suína seja uma marolinha, esperando o fim da dor de estômago... Depois que toda a podriqueira das altas esferas foi escancarada nos jornais e nas ruas, passamos a esperar qualquer coisa. Pelo menos uma tábua onde nos agarrássemos durante o vendaval. Ainda bem que a esperança chegou, a sonhada solução para nossos problemas. Viva o Chico, viva o Paulo, viva o Obama! O jornal Folha de São Paulo, de domingo, revelou-nos a grande descoberta. As eleições estão batendo nas portas, mas nem tudo está perdido. Vejam se somos ou não somos um país séri os partidos decidiram escolher seus próximos candidatos, não mais entre os capacitados, mas entre as celebridades. As feras, até então esquecidas. O jornal trouxe-nos os primeiros nomes deles: Maguila, Popó, Sérgio Reis, Edmundo (jogador de futebol), Marcelinho Carioca, Vampeta, André Gonçalves (das novelas), Kleber Bambam (do Big Brothers), Joãozinho Trinta.
Meu amigo, meu irmão, já pensaram no que nos espera? Já pensaram numa assembleia legislativa de celebridades como Maguila, Vampeta, Romário, Edmundo e mais umas duas dúzias?
É interessante a mudança de critérios. Tempos atrás, os convidados pelos partidos eram as capacidades, hoje são as celebridades. Examinavam o passado, os padrões morais, a capacidade intelectual. Hoje não. O que vale é se sabe cantar, tocar viola ou cavaquinho, encantar nas novelas, dizer besteiras no Big Brothers, ficar seminu e por aí afora...
Contra spem, in spe! Não é fácil.