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O mundo vai de mal a pior...

Foi deste dito dos antigos que me lembrei quando li a crônica do Dr. João Gilberto na última quarta-feira, quando narrava fatos da vida real que explodiam dentro de seu consultório

Padre Prata
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 11:52
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Foi deste dito dos antigos que me lembrei quando li a crônica do Dr. João Gilberto na última quarta-feira, quando narrava fatos da vida real que explodiam dentro de seu consultóri a caminhada crescente da droga nos dias de hoje. Mães, pais, irmãos, amigos, educadores, todos sofrendo com as atitudes desvairadas dos amigos do pó e da pedra.

Viver não é tão perigoso. Perigoso, hoje, é sobreviver. É preciso que se tenha mente, olhos e ouvidos bem abertos para não se tornar vítima do vagalhão que está nos engolindo. Sobretudo, não ser ingênuo para acreditar em qualquer conversa. Nós, os que estamos em plena senectude, nos lembramos de que não havia tanto ladrão, tanto trapaceiro, tanta gente sem-vergonha, tanto político desonesto, tanta gente safada como a manada de hoje. A impressão que se tem é que está havendo uma regressão no comportamento das pessoas. Das instituições também. Há pouco tempo, deram-me um calote de todo tamanho. Contando o fato a um amigo, ele disse apenas que eu era um ingênuo. O que acontece é que, às vezes, ficamos num dilema: esse cara é honesto ou não?  Ajudo ou não?

Um moço aparece em minha porta. “Sua bênção, padre”. Boa aparência. Educado. Pede minha compreensão. Conta-me, em lágrimas, a história de sua mãe viúva, doente, lavava roupa para sustentar os filhos. Deu o nome da mãe, da rua e o número da casa. Dei-lhe uns caraminguás, mas fui lá conferir. Era verdade, um vizinho confirmou. Contei-lhe minha intenção de ajudá-los. Ele me alerta. “Esse moço é viciado em drogas, da pesada. Quando a mãe, lavadeira, não dá dinheiro, ele a agride a socos e pontapés. Mais ainda, já vendeu tudo o que havia na casa, TV, louças, roupas, tudo o que dá dinheiro”.  É isso, o moço era um bandido e eu o ingênuo. “Deus te abençoe, meu filho”. O incrível acontece: ajudar os outros se tornou perigoso. Consequência: vamos nos trancando.

Coisa de dois meses, estava estacionado na Av. Guilherme Ferreira, em frente à NetSuper. Ao retornar, um senhor saído não sei de onde, se aproximou e disse: “Será que o senhor podia trocar uma nota de vinte por duas de dez?” Não era um moleque, estava relativamente bem vestido e era de idade, de boa aparência. Dei-lhe as duas de dez e enquanto esperava a nota de vinte, aquele ilustríssimo e velhaquíssimo senhor, sério e de boa pinta, virou as costas e foi andando depressa pela calçada. Não ouviu meu chamado, atravessou a avenida e se mandou. Correr atrás como? Com oitenta e seis anos?  Gritar “pega ladrão”, pior ainda. Os passantes iriam pensar que eu era doido. Só me restou olhar o malandro dobrar a esquina,  para gastar as duas de dez nem sei onde.

É isso aí, não se sabe mais o que está no coração de quem nos pede ajuda. E assim o mundo vai ficando mais duro e mais cruel. Nós também.

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