ARTICULISTAS

Novembro - mês da esperança

O movimento de multidões em visita aos cemitérios, nos dois primeiros dias deste mês de novembro, nos leva a perguntar: por quê? Poder-se-ia responder dizendo: uma homenagem aos que partiram

Dom Benedicto de Ulhôa Vieira
Publicado em 05/11/2009 às 20:04Atualizado em 20/12/2022 às 09:40
Compartilhar

O movimento de multidões em visita aos cemitérios, nos dois primeiros dias deste mês de novembro, nos leva a perguntar: por quê? Poder-se-ia responder dizend uma homenagem aos que partiram ou expressão de uma ausência sentida. Seria pouc homenagem a um corpo já consumido? Saudade? Mas seria muito mais consolador contemplar o retrato da pessoa falecida quando ainda vivia com suas feições pessoais, do que visitar o túmulo de cimento ou de flores onde foi ela sepultada.

A lembrança dos nossos mortos, que nos leva ao cemitério, ao lugar onde seus corpos foram depositados, é um sinal de esperança cristã. Porque temos certeza de nossa imortalidade e, por isto, esperamos uma vida que não tem fim, recordamos os que partiram antes de nós para a recompensa com que a justiça divina os gratifica.

Conscientes ou inconscientes, vivemos da esperança que dá sentido à nossa caminhada terrestre. Enquanto aguardamos a recompensa futura, que Cristo nos garantiu, ilumina-nos a certeza de um reino de paz e de felicidade, que é a recompensa divina aos que amaram a Deus e seguiram pelos caminhos que nos levam à felicidade eterna.

A Escritura sagrada, na palavra de São Paulo (Rm 4, 21), nos dá em Abraão o claro exemplo de esperança. Ele soube esperar contra toda esperança, na certeza de que Deus todo poderoso cumpriria, como de fato cumpriu, o que prometera: ter ele uma descendência tão numerosa como as areias da praia e as estrelas do céu.

É bom lembrar aqui que não se mata uma pessoa somente quando se lhe tira a vida. Mata-se realmente alguém, quando se lhe tira toda a esperança no âmago da alma. A filosofia popular assimilou esta verdade ao exprimir com sabedoria que “a esperança é a última que morre”. Qual o sentido de nossa vida, por difícil que seja, se já não se tem esperança?

Na festa de Nossa Senhora das Mercês, há pouco tempo, pregando ao povo, lembrei aos presentes que não se deixassem abater com as dificuldades que todos enfrentamos. Mas que, confiados na graça divina e na proteção de Maria, Mãe de Deus, nos replenássemos de esperança nos momentos de dificuldades. E lembrei aos presentes a linda poesia de Jorge de Lima sobre Maria Santíssima.

Com inspiração invejável, diz ele - o poeta – que Nossa Senhora sabe ver os acontecimentos difíceis, com os olhos verdes de esperança, já que popularmente se acredita que a cor verde é a cor da esperança. E pede ele, cujos olhos são pretos “cor de carvão”, para Nossa Senhora pintar-lhe os olhos de verde “que eu quero ver verdes os dias que inda virão”. Um anseio, pois de esperança.

Este mês de novembro, em que lembramos nossos irmãos falecidos, é ocasião feliz de reviver em nós a esperança teologal, iluminando o coração com a certeza de que a morte não é o fim, mas a passagem para os braços paternos de nosso Deus. É esta esperança cristã que ilumina nossa caminhada terrestre.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por