Desde minha mocidade, quando fiz Teologia no Seminário Maior de Belo Horizonte, foi-me ensinado o sentido real e autêntico de Religião. É um contato real e autêntico com Deus num clima de amor, paz e lealdade. É uma abertura de coração e mente para com Deus e a inefável resposta do Pai nos acolhendo. É um abraço de um filho com o Pai. Não é comércio nem troca de favores. É uma comunhão de amor. Aprendi no colo de minha mãe que com Deus não se brinca.
Não podemos usar de seu Nome para obter lucros e vantagens ou para satisfazer nossas vaidades e nosso egoísmo. Não podemos nos servir dEle como instrumento de negócios. Deus não enriquece a uns e empobrece a outros. Se sou rico ou sou pobre não é por decisão de Deus. Nossa vida e tudo o que acontece nela são resultantes de conjunturas ocasionais, históricas, biológicas ou consequências de nossas escolhas. Não somos bonecos nas mãos de Deus.
Temos lido o que anda acontecendo ultimamente com uma religião muito em evidência. Usar de Deus para fazer negócios é um tipo prático de ateísmo. Puro ateísmo. Como posso ter consideração por um grupo religioso que faz de Deus instrumento de altos negócios? Como posso levar a sério um grupo de “falsos religiosos” que arranca o salário do pobre para realizar grandes transações financeiras? Como posso aceitar a credibilidade daqueles que se aproveitam da ignorância do humilde, do mal informado, para montar grandes empresas geradoras de capital e de opressão? É o pior dos ateísmos, o ateísmo prático. A leitura da Palavra se torna em seus lábios a pior de todas as blasfêmias. Jesus aceitou a presença de pessoas que não eram de seu grupo religioso. Curou muitos deles. Agora, o que Jesus não aceitava era o farisaísmo, a hipocrisia, a exploração do pobre. O eixo de sua pregação não eram as leis e os ritos. Era a compaixão.
Espero que ninguém esteja pensando que estou fazendo defesa de minha Igreja. Ela também carrega em suas costas grandes pecados. É santa e pecadora. Há momentos em sua história que nos enchem de vergonha. Quem estudou História conhece bem as famosas negociatas da venda de indulgências para ganhar um lugarzinho no céu. É pecadora. Mas também é santa. Trouxe até nós a Palavra de Deus banhada no sangue de seus mártires, de seus grandes santos. Há pecadores dentro dela. Muitos. Inclusive em sua alta hierarquia. Mas, como nos esquecer de seus santos gerados em seu seio, alimentados não apenas pela Palavra, mas também pelo Pão que é sinal da presença de Deus no meio de nós?
Uma coisa é ser frágil, uma coisa é ser pecador, outra é ser desonesto. Todos nós, leigos, padres, bispos e papas, todos somos pecadores, todos cometemos nossos erros. Tudo isso é fruto da fragilidade humana. Compreendemos e aceitamos. Agora, usar o nome de Deus para explorar os pobres, os mal informados, é simplesmente inaceitável. É uma atitude criminosa que brada aos céus.