ARTICULISTAS

Motoristas acidentados

Hoje falo sobre o drama dos caminhoneiros que são esquecidos. Nossas rodovias todos os dias mostram caminhões e carretas desmanchados no asfalto como se fossem animais pré-históricos abatidos

João Eurípedes Sabino
Publicado em 28/08/2009 às 20:35Atualizado em 20/12/2022 às 10:54
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Hoje falo sobre o drama dos caminhoneiros que são esquecidos.

Nossas rodovias todos os dias mostram caminhões e carretas desmanchados no asfalto como se fossem animais pré-históricos abatidos. Os treminhões (de 11 eixos) ou bitrens transportadores de cana (de nove eixos) merecem capítulos à parte. As exigências para esses megaveículos são pequenas diante de suas grandezas.

Que tipo de vida passa a enfrentar o ex-caminhoneiro que um dia viu a morte de perto e não voltará a vê-la assentado no comando de um “bruto”? É a lei: nesse universo competitivo e selvagem, o motorista não passa de um número. Depois de um desastre, o seu lugar é logo ocupado por um substituto. Punições, cadeiras de rodas, aparelhos ortopédicos, camas para sempre, etc., quando não a morte, marcam o do seu novo destino. Médicos, fisioterapeutas e enfermeiros nessas horas muito fazem pelo ex-piloto, mesmo sabendo que as chances de reversão possam ser nulas.

Junto com as vítimas da violência, os ex-caminhoneiros acidentados (com raríssimas exceções) seguem juntos para mesma vala. As associações de apoio aos portadores de necessidades especiais, num trabalho magnífico, os recebem, mostrando-lhes que a vida não terminou ao cessar os seus naturais movimentos. Viver está acima de tudo.

Adão Batista de Almeida, residente em Mirassol d’Oeste (MT), teve a vida literalmente mudada num acidente com sua carreta Mercedes-Benz – 19.35 − na rodovia BR-153 no dia 19/03/2005. Ficou internado por cinco meses no Hospital Escola da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e pilotou depois uma cadeira de rodas pelo mesmo tempo. Hoje é escorado por muletas de alumínio. Indaguei-lhe sobre: a sua antiga roda de amigos, indenizações que merece, a ajuda do Estado, outros direitos e finalmente a reabilitação. Confortei-me quando ele respondeu que esses itens são apenas desejos seus e frisou: “Minha esperança eu jamais perco porque nunca a colocarei em último lugar, como recomenda o velho ditado”. Adão é um exemplo!

Quando viajo atrás de um “lobo da estrada”, sempre falo comig naquele volante vai um ser humano que não vê os filhos crescer; faz de tudo e mais um pouco pela própria sobrevivência, não dorme o próprio sono e vive um constante pesadelo na estrada. De quem será a culpa pelos acidentes com ele todos os dias?

Ser caminhoneiro e manter-se vivo nas estradas brasileiras, é aventura para herói. Sair da estrada por obra de um acidente e depois viver ignorado, é obra para super-homem. Essa é a dura realidade.

(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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