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Mergulho no passado

Vez por outra, me procuram com fotos antigas para que eu identifique os ilustres personagens cujas imagens ali se estampam.

Padre Prata
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:13
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Vez por outra, me procuram com fotos antigas para que eu identifique os ilustres personagens cujas imagens ali se estampam. Certa vez, uma dessas fotos trazia a data de 1908. Sei que sou idoso, mas nem tanto...

Faz anos, procurando saber quem era Padre Mário, o padre que me batizou, andei vasculhando mofados alfarrábios, livros cujas folhas se esfarinhavam ao menor contato. Nada consegui, a não ser piorar de uma rinite alérgica que me amofina lá se vão anos. Minha mãe falava muito nesse padre, amigo da família, era bonito e muito engraçado.

Os antigos diziam que “quando não se espera, o diabo aparece”. Aqui, no caso, ele apareceu. Não o diabo, mas o padre que, segundo dizem os entendidos, são inimigos figadais.

Há uma semana, passando pela sacristia da Igreja do Santíssimo Sacramento, vi na parede as fotos de todos os párocos que tinham exercido seu ministério naquela paróquia. Para meu espanto e alegria, a primeira foto da série era do tão procurado Padre Mário. Padre Mário Coelho de Mendonça – 1922. Sim, era ele. Alto, simpático, vestido com uma sobrepeliz para ninguém botar defeito. Consegui uma cópia da fotografia agora já catalogada numa pasta especial. Aos poucos vou recuperando a história de minha vida.

Uma dessas fotos que me foram apresentadas para as devidas identificações trazia a inauguração de qualquer coisa na Praça das Mercês, hoje dom Eduardo. Difícil identificar os antigos. São muito parecidos: todos de bigode e de chapéu Panamá, sem falar no colete e na gravata borboleta. Consegui identificar meia dúzia. Bem na frente, a figura folclórica do Sr. João Euzébio de Oliveira, o Bem Prata. Enfatiotado como sempre. Sem falar no corte de cabelo “buscarré” e do cravo branco na lapela. Gordo, solteiro, bonachão, lá estava ele. Década de vinte, devia ser o prefeito da cidade, estava rodeado de uma chusma de basbaques. Foi um prefeito nepotista dos mais tranquilos. Nomeou toda a parentada desocupada e eram muitos. Criou uma escola rural na fazenda de meu pai, botou o nome de Octacílio Prata (nada menos do que o Tati Prata. Ignoro os motivos da preferência) e, como professora, nomeou minha irmã de apenas quinze anos, com o Curso Normal incompleto. Aos sete anos, não sei por que razões, o Bem Prata foi o escolhido para ser meu padrinho de Crisma. No dia da festa, prometeu-me um carrinho chamado “Carrinho do Siqueira”, que era puxado por dois cabritinhos, o Tutalivre e o Tutopa. Prometeu e não cumpriu. Como se vê, um grande político.

Quando morreu, eu já era padre. Deve ter ido para o céu. Uma viagem tranquila, refestelado no “Carrinho do Siqueira”, puxado por dois  cabritinhos...

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