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Mente aberta

Sempre me pedem para escrever sobre determinados assuntos. Geralmente

Padre Prata
Publicado em 29/07/2018 às 10:49Atualizado em 17/12/2022 às 11:57
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Sempre me pedem para escrever sobre determinados assuntos. Geralmente assuntos polêmicos: riquezas da Igreja, intolerância, homossexualismo, celibato, movimento dos sem terra (MST), ecumenismo, carma, reencarnação e outros. Quase sempre na perspectiva de “qual sua opinião sobre?”. Se me perguntam é porque têm dúvidas ou querem aprender. Não creio que alguém me peça opinião “para ver o circo pegar fogo”. Creio, ainda, que esses temas agradariam apenas a um número muito restrito de pessoas.

Há verdades fundamentais em nossa Fé Católica sobre as quais não discuto. São verdades centrais. São as colunas do edifício. São os “dogmas” de sustentação. Todas as religiões têm seus dogmas. Dogma significa norma, lei, disposições, prescrições básicas. Até as ideologias têm seus dogmas. Você consegue imaginar o marxismo sem o dogma da mais-valia, da infraestrutura econômica? Você consegue imaginar o espiritismo sem o dogma da reencarnação? Acontece que o termo “dogma” adquiriu uma conotação de intolerância e de desrespeito à liberdade de pensamento. Estamos, todos nós, sem exceção, presos a dogmas. Não há como fugir. Como também não há nenhum mal nisso.

O Concílio Vaticano II, no Decreto sobre o Ecumenismo, quando fala sobre “a renovação da Igreja”, diz o seguinte: “A Igreja peregrina é chamada por Cristo a essa reforma perene, de que ela própria, como instituição humana e terrena, necessita perpetuamente. Assim, se em vista das circunstâncias das coisas e dos tempos houve deficiências, quer nos costumes, quer na disciplina eclesiástica, quer também no modo de enunciar a doutrina..., tudo isso seja reta e devidamente reformado no momento oportuno”. (6)

Se você leu o texto com atenção, deve ter percebido que a própria Igreja admite deficiências nos costumes, na disciplina e no modo de expressão de suas verdades. Noutras palavras, a Igreja, enquanto instituição humana, erra. O Vaticano erra? Sim, erra, e muito. O Papa está sujeito a erros em suas opiniões particulares? Sim, está. E daí? Posso discutir a disciplina da Igreja? Sim, posso. Posso discutir suas leis sobre os costumes? Sim, posso. Posso discutir seu modo de expressar as verdades da fé? Sim, posso. Não há nenhum desrespeito nisso. Muito menos não significa falta de fé. Seria falta de fé eu aceitar tudo o que vem de meus superiores, só pelo fato de serem meus superiores? Como dizia Chesterton, “quando eu entro na igreja, eu tiro o chapéu, não a cabeça”. É bíblico respeitar os superiores. São pontos de referência de meu comportamento. São necessários para a unidade, seja política, seja religiosa ou disciplinar. Nenhuma comunidade permanece coesa sem aqueles que a dirigem. Não é apenas uma verdade sociológica, mas é também religiosa. Merecem nosso respeito e até nossa admiração pelo que sofrem e toleram de seus subordinados. Não é fácil ter autoridade, seja religiosa ou política. Diziam os latinos: “tot capita, quot sententia”. Em tradução livre: cada um pensa de um jeito. Agora, harmonizar essas “cabeças” é que é o busílis, como dizia meu avô João Prata. Por isso, por tudo isso, é que oramos, sem cessar, por nossos superiores, pelo Papa, pelo Bispo, pelos padres, pelo Presidente, pelo Prefeito, por todos aqueles que encarnam a autoridade. Pedimos ao Espírito de Deus que dê a eles o dom da Sabedoria para tomar as decisões certas e o dom da Fortaleza para aguentarem o rojão.

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