ARTICULISTAS

Inspetor de quarteirão

Nenhum democrata convicto fala mais de democracia do que os ditadores. E mais: Antes do poder, democracia no povo. Depois no poder, autoritarismo nele

João Eurípedes Sabino
Publicado em 15/01/2010 às 20:39Atualizado em 20/12/2022 às 08:32
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Nenhum democrata convicto fala mais de democracia do que os ditadores. E mais: Antes do poder, democracia no povo. Depois no poder, autoritarismo nele. Estamos assistindo à conspiração sistemática dos governantes latino-americanos para a instalação de ditaduras. Tenho minhas dúvidas se este texto e outros do gênero poderão ser publicados num futuro bem próximo. Os Lusíadas de Camões podem voltar...

Falastrões como sempre, useiros dos embriões da ditadura vivem “se achando” sem receio de que o ridículo lhes ache. E acha.  “La democracia” do venezuelano Hugo Chávez tem fascinado tanto o então bem intencionado Lula, que o perfil do “Filho do Brasil” muda à medida que sobe a sua bem arquitetada popularidade. Getúlio Vargas o “Pai dos pobres”, enchia estádios de futebol com os desavisados e discursava com emoção de crocodilo aos “Trabalhadores do Brasil”. Ao mesmo tempo GV sumia com os seus opositores, praticava a tortura, cerceava a liberdade de expressão e perpetrava coisas inconfessáveis. O DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo vendia a imagem de “santo” do ditador, quando na verdade era um déspota. Que me provem o contrário!

Antes do poder, tínhamos um Lula democrático e solidário ao sonho de vermos um Brasil livre das amarras do regime de exceções que me recuso comentar. Só sei que vamos pagar o preço por esse entrave durante gerações e gerações. Não estarei aqui para ver o último recibo dessa conta. Hoje vemos Luiz Inácio Lula da Silva desvirtuado a ponto de assinar coisas sem ler. Disse alguém que: na ditadura, o problema não é propriamente o ditador, mas sim o inspetor de quarteirão que age em nome do ditador.

Cabem duas perguntas: A assessoria de Lula percebeu que ele assinou, sem ler, o decreto 7.037, de 21/12/09, que limita a liberdade da imprensa e cria confrontos entre então “subversivos” e torturadores no regime militar? Estariam agindo aí os inspetores de quarteirão? Sr. Presidente:  na década de oitenta quando eu ocupava certa função pública, uma funcionária de minha confiança colocou para  eu assinar, uma folha  entre dezenas com redação que me comprometia. Assinei, mas vi a tempo e invalidei o documento. Brincadeira chefe, brincadeira..., disse a funcionária. Fique atento Presidente! A sua assinatura, diferentemente da minha, pode mudar a história!

Depois no poder, o autoritarismo sempre vem à mente de quem chegou lá depois de muitas lutas. Revanchismo, prepotência, rancor, etc. são externados de formas sutis ou explícitas. Oxalá as assinaturas de Lula sejam postas em documentos lidos antes, com o poder de arejar as nossas consciências e não de reprimi-las.

 

 (*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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