Especialista da UFMG alerta que consumo de alimentos industrializados, como pizza congelada e sorvete, podem acarretar diversas doenças
A pesquisa destaca que a base da alimentação de mineiros permanece concentrada em grupos de itens naturais ou menos industrializados (Foto/Reprodução)
Dupla tradicional da culinária brasileira, o arroz com feijão tem perdido espaço no prato dos mineiros. Entre 2008 e 2018, o consumo desses alimentos caiu de 47,01 kg por pessoa por ano para 30,76 kg, representando uma redução de 35,2% nas aquisições domiciliares de Minas Gerais. Em contrapartida, o consumo de alimentos industrializados e ultraprocessados aumentou de 3,38 kg por pessoa por ano para 4,39 kg, um aumento de 14,7% em uma década. Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Thaís Caldeira, doutora e pesquisadora do departamento de nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), essa troca é preocupante e pode ser prejudicial à saúde. “Já temos diversos estudos que relacionam o consumo de ultraprocessados com obesidade e aumento do risco para diversas doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, alguns tipos de câncer e até depressão”, explica.
De acordo com a especialista, diversos fatores podem estar colaborando para que a “comida de verdade” esteja perdendo espaço para os ultraprocessados - principalmente biscoitos recheados, achocolatados, sorvetes e substitutos de refeições, como macarrão instantâneo, pizzas e lasanhas congeladas.
“A falta de tempo, uma vez que as pessoas passam muitas horas no trabalho e no trânsito, faz que os ultraprocessados sejam uma opção atrativa para quem não tem energia para cozinhar. Sem falar na publicidade constante, com forte apelo emocional, e nos preços crescentes de frutas e verduras. Muitas vezes, o ultraprocessado acaba se tornando uma opção mais viável para o bolso de quem compra”, analisa.
A pesquisadora também afirma que, uma vez que esses alimentos fazem mal à saúde, não existe uma cota segura de consumo ou um número de vezes que eles possam ser consumidos por semana sem afetar a saúde, por exemplo. Porém, ela também reconhece que dificilmente alguém vai zerar o consumo, até mesmo por falta de acesso a alimentos in natura.
“O recomendado, portanto, é fazer deles uma exceção e tentar reduzir o consumo o máximo possível. Cada pessoa tem um tipo de relação com os ultraprocessados, então não dá para passar a mesma orientação para todas as pessoas. O ideal é pensar na quantidade de industrializados consumidos no dia a dia e repensar como eles podem ser substituídos aos poucos”, aconselha.
Diminuindo o consumo dos ultraprocessados
Apesar do crescimento na aquisição de produtos mais processados, a pesquisa destaca que a base da alimentação de mineiros permanece concentrada em grupos de itens naturais ou menos industrializados. Em 2018, os laticínios (16,3%), os cereais e leguminosas (11,6%), as frutas (10,7%) e as hortaliças (10,3%) estavam entre os itens no topo das aquisições domiciliares de Minas Gerais.
Para a especialista da UFMG, é importante que as pessoas invistam no consumo do arroz com feijão e de outros alimentos in natura. “Essa dupla já garante o consumo de boa parte das proteínas, fibras e aminoácidos necessários. Eles previnem doenças cardiovasculares, problemas de intestino e diabetes”, elenca.
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Fonte: O Tempo