Gatas e humanos

O nome da gatinha é Teca. Não perguntei à neta Vanessa as razões de tal escolha, mas o nome combina com o animalzinho. Teca é a rapa do tacho de uma bela ninhada de quatro filhotes de uma gata siamesa linda. Herdou os traços do pai, um vira-lata cioso de sua supremacia no lar.

Um dia, o pai, a mãe e os três irmãos de Teca sumiram no mundo, já que os gatos não têm dono; são donos de quem os cria e sustenta. E por que Teca não acompanhou a família em fuga? Estava esperando filhotes e, acredito, desejou dar a eles o conforto daquela casa onde nascera e vivia. Para dar segurança aos filhotes, ela não seguiu o pai, a mãe e os irmãos.

Teca tem lá suas exigências e gosta de ser bem atendida, ou fica miando horas e horas seguidas, em busca do seu querer. A casa onde vive foi construída num terreno bem acidentado. A diferença do ponto mais baixo no quintal até a caixa d’água são quatro pavimentos. E lá no ponto mais baixo da casa há uma casinha de bonecas, onde a mãe de Teca teve a sua ninhada. Ela criou os quatro filhotes aproveitando todos os cantos desta casa. Foi na casinha de bonecas que também Teca trouxe ao mundo seus quatro filhotes.

Teca sabe o horário em que sua dona retorna ao lar à tarde. Então, sobe pelos muros e vai miar na porta da cozinha, lá no segundo andar, até que a porta seja aberta e ela tenha acesso ao colo da dona. É uma festa para todos observar a atitude da gatinha sabida.

Um fato extraordinário chamou a atenção de todas as pessoas da casa. Ao dar cria, lá no fundo do quintal, a gatinha não abandonou a sua mania de um colinho. E alguém teve a ideia de levar os filhotes para um lugar mais aconchegante, no pátio da casa. Teca não gostou da intromissão e, carregando-os um por um, os fez desaparecerem. Era visível que eles ainda estavam mamando. Agora os filhotes estavam bem alimentados e escondidos. E a mamãe gata desfrutando do colinho de todos.

Três meses se passaram e Teca decidiu que já era hora de mostrar os belos filhotes aos donos da casa. E o fez em grande estilo, carregando-os um por um para as vistas e a apreciação de todos os interessados. Houve uma suposição de que estariam sob a caixa d’água, lá no quarto pavimento. Porém são só conjecturas. Logo ela voltou a sumir com os filhotes, para protegê-los.

Entendo que é uma lição aos homens. Enquanto existem pais que negam proteção aos seus filhos, uma gata protege seus filhotes.

Leio na edição da Folhinha de 31 de outubro que os gatos vivem, em média, 15 anos. Comprovo essa afirmação pela idade da Missy, uma gata especial que minha filha Ana levou para Portugal, com todas as dificuldades e exigências das autoridades sanitárias e das companhias de aviação. Valeram os gastos todos, pois a gatinha é a alegria da família e, acredito, sabe que é a dona da casa. Escolhe os lugares onde quer dormir, sabe arrumar esconderijos onde se esconder no apartamento e determina as portas que devem ficar abertas para que possa circular livremente pelos cômodos.

Missy tem quinze anos de vida, contadinhos, e tem exigido cuidados especiais dos veterinários. Penso nos cuidados especiais de que a família precisará quando a gatinha se for. Vai ser uma choradeira sem fim. Quem gosta de animais, especialmente de gatos, sabe bem o que estamos tentando dizer. E quem não gosta não tem a mínima noção da alegria que um ronronar de um bichano pode provocar em quem o cria.

Assim são Teca e Missy, duas gatinhas que mudaram completamente a vida dos que estão à sua volta. Elas dão valor à vida e alegram as famílias que, com muito carinho, as acolhem.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro