A violência é um problema social e de saúde
A violência é um problema social e de saúde que afeta todos os segmentos da sociedade, independente de sexo, idade, grau de instrução, classe social ou religião, e está presente em todas as culturas. De maneiras iguais ou diferentes, esta violência ocorre entre casais e familiares ou indivíduos não consanguíneos contra crianças e idosos.
O casamento ou a vida conjugal contemporânea são atravessados pela intolerância e por vários fatores que podem induzir à ação violenta, como falta de respeito, mentira, manipulação, fadiga, irritação mesquinha por motivos insignificantes, sobretudo com o outro, e iminência da violência. A incomunicabilidade e o cultivo de sentimentos negativos podem também deflagrar tanto manifestações de violência física quanto psicológica ou ambas.
É importante considerar que a vida a dois, bem como os relacionamentos em geral, têm aspectos de satisfação e conflito, o que é inerente à condição humana. A forma de cada um lidar com as diferenças do outro depende da história de vida de cada um, visto que as possibilidades de vivenciar essa experiência podem ser uma escolha saudável ou não saudável. Porém, vale verificar como o casal vivencia esses conflitos, observando se surgem questões relacionadas à psicossomática.
A violência psicológica que se estabelece no relacionamento conjugal contribui para a instalação do adoecimento. O processo de adoecer não se manifesta apenas por meio de sintomas físicos ou orgânicos. Engloba a existência como um todo.
O empobrecimento dos vínculos impede a elaboração das perdas e separações, além de provocar um vazio psíquico, gerando uma desarticulação psicossomática. Entender a complexa teia das relações conjugais violentas requer permanente reflexão de parâmetros orientadores que ultrapassem e atualizem a fantasia do conceito de amor romântico ou amor à primeira vista, elaborada no século XVIII.
Na vida conjugal violenta, o casal investe sua ira ou sua dor contra o cônjuge, envolvendo também os filhos. O homem ou a mulher, alcoolizados ou não, drogados ou não, espancam as crianças ou as negligenciam, embriagam-se lentamente e ainda se descuidam de si mesmos. A falta de cuidados com a própria pessoa, com a casa e os filhos pode instalar alteração na percepção do autoconceito e um processo crônico de afastamento das necessidades do eu, culminando em neuroses de contato ou rupturas psicóticas com a realidade.