O que é trabalho? É o ofício de cada dia. O espaço que o ofício de cada dia deve ocupar na vida de uma pessoa é um tema que antropólogos, filósofos, sociólogos, economistas e psicólogos tentam
O que é trabalho? É o ofício de cada dia.
O espaço que o ofício de cada dia deve ocupar na vida de uma pessoa é um tema que antropólogos, filósofos, sociólogos, economistas e psicólogos tentam entender.
Que sentido tem o trabalho para as pessoas?
Os homens e as mulheres conseguem ser felizes e ter prazer no seu ofício?
Esse dilema ou estas questões não existiam há algumas décadas, quando o trabalho era simplesmente considerado um mal necessário. Um mal ou um bem?
Após uma pesquisa de uma consultoria canadense de recursos humanos com profissionais em nível médio de carreira foi constatado que 70% das pessoas entrevistadas estão infelizes com o seu trabalho e com o seu salário. Para estudiosos do assunto, isso acontece porque as pessoas, além de sofrerem com a pressão crescente por bons resultados, geralmente não são reconhecidas pelo que fazem. É possível ser feliz em um ambiente que parece jogar o tempo todo contra a satisfação pessoal?
“Para ser prazerosa, a atividade tem de estar sob controle do próprio indivíduo. Não pode depender tanto de fontes externas de reconhecimento, como acontece com a maioria dos empregos”, afirma o psicólogo Pedro Bendassolli, estudioso da relação trabalho e identidade da FGV de São Paulo. Para ele é irreal encarar a profissão como sinônimo de realização pessoal, argumentando que o funcionário de uma empresa não é dono do próprio trabalho e depende da vontade e dos rumos da companhia.
Acontece que muitos indivíduos, mesmo com metas inatingíveis, cronogramas apertados, recompensas injustas se percebem sendo felizes no trabalho. Tendência masoquista? A explicação é muito arraigada no ser humano, quando se afirma que a verdade é que o homem só é homem por causa do trabalho. Segundo a antropologia, graças às atividades coletivas, o Homo Sapiens adquiriu as características que o diferenciam dos demais primatas – capacidade de raciocínio, consciência e linguagem desenvolvida. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, também coloca o trabalho como cerne da civilização, que teria nascido quando o homem deixou de direcionar seu impulso sexual apenas para a necessidade de coito e passou a usar a força da libido no trabalho criativo.
Esta é a questão central sobre o assunto para muitos especialistas. O trabalho é essencial porque, além de garantir a sobrevivência, nos ajuda a definir quem somos. A psicóloga Estelle Morin, da Universidade de Montreal, que há duas décadas estuda o sentido do trabalho, afirma: “Exercer uma atividade profissional faz parte do nosso desenvolvimento pessoal e não pode ser visto apenas como um meio de sobrevivência”. Acreditando que o trabalho pode ser uma fonte de satisfação, duas condições são necessárias: fazer o que gosta – fator interno – e trabalhar em um lugar agradável – fator externo. Fazer o que gosta implica que não dá para ser feliz sem ser fiel à própria natureza. Trabalhar em um lugar agradável inclui ter um chefe democrático e competente, conseguir autonomia, receber reconhecimento, não ter necessidade de se matar para manter o emprego.
Enfim, a ideia é que a trajetória no mundo do trabalho é uma jornada à procura da identidade, onde ser feliz deve ser regra e não exceção.
(*) psicóloga clínica