A timidez é um complexo processo de dificuldades de relacionamento interpessoal
A timidez é um complexo processo de dificuldades de relacionamento interpessoal e está relacionada a sentimentos, atitudes e comportamentos de menos valia e autopercepção negativa.
Engloba diversos tipos de medos e fantasias a respeito de si mesmo e dos riscos envolvidos nas expressões verbal e gestual.
A timidez não se restringe apenas aos indivíduos que fogem das situações de convívio social ou que ficam vermelhas ao se dirigirem a alguém, manifesta-se, também, em diversas situações cotidianas, nas quais a pessoa necessita se expressar.
A intensidade da dificuldade de se expressar varia muito de pessoa para pessoa, conforme sua história de vida.
Existem os tímidos disfarçados, os quais lançam mão de estratégias para se comunicar. Muitos falantes e contadores de piada, no fundo, são tímidos. Embora diferentes, temem e afastam-se de situações que lhes exigem espontaneidade, ou expressão de si mesmo.
Bloqueios e dificuldades relacionadas à expressão de si mesmo, ou à expressão de algum tema, em situações que envolvem ou não grande público, são consequências da timidez.
Estresse, angústia, fuga das situações de exposição, adiamento dos sonhos e aspirações, conformismo em situações pouco nutritivas e prazerosas são também resultados da timidez e influenciam várias áreas da vida dos envolvidos, limitando as possibilidades profissionais, afetivas, emocionais e até mesmo físicas. O tímido apresenta, muitas vezes, comportamentos depressivos. As dificuldades relacionadas aos processos de timidez vão muito além de ter que falar em público.
Os sentimentos de vergonha, de menos valia, de perceber-se inferior, incapaz, sem atributos e sem atrativos são os poderosos inimigos das pessoas tímidas. Com autoconceito tão desfavorável é impossível construir projetos de vida. Com o foco da atenção voltado para a fuga das situações de exposição e risco, o tímido relega a segundo plano seus projetos existenciais. Não raro, esquece seus objetivos, justifica seus anseios e sua falta de ação, perambula pela vida e desvia-se de sua rota. Ao final, sente-se desorientado, vazio e esgotado, com uma sensação de ter realizado esforços inúteis e dado voltas sem sentido. A frustração decorrente reforça a sensação de inadequação e baixa autoestima, e o círculo vicioso se estabelece.
Expressar-se exige coragem, humildade e verdade do sujeito. Interessante, por mais temerosos que seja, é enfrentar o fantasma da expressão. E isso significa conhecê-lo, familiarizar-se com seus desafios e se expressar de forma consciente.
(*) psicóloga clínica