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Falando de política e subjetividade - ll

O movimento que existe entre instituir e ser instituído ocorre de maneira não consciente de geração em geração e é constante

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 01/07/2010 às 20:33Atualizado em 20/12/2022 às 05:38
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O movimento que existe entre instituir e ser instituído ocorre de maneira não consciente de geração em geração e é constante. Assim, as instituições submetem as subjetividades a sentidos culturais pré-existentes fornecendo um primeiro continente aos processos de construção do eu. Por outro lado, o processo constante de instituir-se promove um questionamento do sentido coletivo existente, abrindo a possibilidade de criação de novos universos de referência de mundo para a existência singular, individual.

Onde mais buscar os vetores que possam orientar os destinos de nossas subjetividades políticas?

O que seria o biopoder?

Biopoder, conforme Foucault, é o poder estatal de controle da vida dos indivíduos, que se implementa pela via eficaz do autocontrole subjetivo. Tal prática é capaz de criar normas e discursos para capturar a vida e dominar o desejo do indivíduo. A tarefa política da atualidade é resistir à prática do biopoder.

Poder-se-ia aproximar a Política da ideia de sociabilidade e de ética?

Atualmente, vivemos momentos de obrigatoriedade de prazer ininterrupto. Com ausência de ideais culturais no contexto sócio econômico consumista de nossos dias, a paixão se expressa sob formas extremamente violentas.

A mediação de conflitos através do diálogo encontra-se, hoje em dia, em profundo declínio. Práticas políticas têm se mostrado insuficientes no mundo do terrorismo, da exclusão das populações desvalidas ou da ampla e documentada corrupção na política.

Ainda é Michel Foucault que radicaliza, estabelecendo que o homem é o animal em cuja política, questiona a sua própria vida.

Neste contexto, é possível compreender a íntima convergência entre os interesses psíquicos de dar significado à vida e os propósitos políticos do sujeito. Resistir às normas do poder e aos discursos do saber vigentes seria, segundo o filósofo francês, a produção política por excelência.

E a dimensão política do sujeito?

A razão se submete ao desejo inconsciente e a realidade se subordina ao prazer, segundo Freud. Se, tradicionalmente, dar significado à vida é função da razão e da consciência, pergunta-se: como compreender, a partir de Freud, a responsabilidade política do indivíduo?

Com o atual desinvestimento cultural dos conceitos, das ideologias e da ética, como conceber neste mundo globalizado, a íntima convergência entre subjetividade e Política?

(*) psicóloga clínica

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