O sujeito é constituído por um misto de ideias e afetos. Desde que nascemos, o cultural nos imprime suas marcas
O sujeito é constituído por um misto de ideias e afetos.
Desde que nascemos, o cultural nos imprime suas marcas, impondo uma constante negociação entre nosso eu, em processo de construção, e aquilo que dele exigem os ideais culturais.
O que acontece?
Muito se tem teorizado sobre o excesso de pessoas que apresentam sintomas como anorexia ou bulimia, um exemplo da influência do coletivo sobre o individual, do social sobre o pessoal. Atualmente, o excesso desses padecimentos psíquicos tem como contraponto o ideário cultural de magreza idealizado nos corpos modelados e transformados pela mídia.
Anorexia e bulimia mostram a interação entre o individual e o coletivo.
A cultura em que a pessoa está inserida, no caso, a de um padrão estético de magreza, faz com que ela busque essa identidade social para si mesma. Como o homem da pólis, com sua dimensão singular intensiva, desejante e conflitiva, o bulímico ou anoréxico, que se encontra na sociedade, quer se inserir e ser aceito no meio social.
Considera-se aqui, pólis em seu sentido original e atual, modelo das antigas cidades gregas e sinônimo de cidade. A pólis é a base da civilização Ocidental. O homem da pólis é o homem que pode se organizar e ter direito à palavra dentro de sua comunidade, é ativo e tem conhecimento de sua autonomia.
A formação de um político envolve uma reflexão pessoal ética, política, pessoal, institucional familiar, social...
O político deve ter, na base de seu fazer cotidiano, o desejo de transformar a vida daqueles que em sofrimento, procuram-no pedindo cuidados. O político também precisa estar consciente de que o fato de ser marcado pelos sentidos culturais e ter um posicionamento pessoal dentro da pólis, suas escolhas políticas, seu time de futebol, sua religião, seus hábitos alimentares ou mesmo suas preferências literária, musical... não lhe dá o direito de saber o que é melhor ou pior para todos. Ele não pode levar consigo as insígnias culturais que poderão moldar a subjetividade dos outros.
Mas então, do que se trata essa marca de base que o político traz a partir da pólis como desejo fundamental?
Como se pode desejar a transformação sem trazer e influenciar o outro com seus conteúdos pessoais, seus sentidos próprios de mundo e de vida?
A relação entre o singular e o coletivo é complexa porque as instituições sociais, incluindo aí a família, formatam e determinam, em parte, as subjetividades, mas ao mesmo tempo são as subjetividades e seus coletivos que estruturam as instituições sociais.
(*) psicóloga clínica