ARTICULISTAS

Falando de política e subjetividade

O sujeito é constituído por um misto de ideias e afetos. Desde que nascemos, o cultural nos imprime suas marcas

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 24/06/2010 às 20:18Atualizado em 20/12/2022 às 05:46
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O sujeito é constituído por um misto de ideias e afetos.

Desde que nascemos, o cultural nos imprime suas marcas, impondo uma constante negociação entre nosso eu, em processo de construção, e aquilo que dele exigem os ideais culturais.

O que acontece?

Muito se tem teorizado sobre o excesso de pessoas que apresentam sintomas como anorexia ou bulimia, um exemplo da influência do coletivo sobre o individual, do social sobre o pessoal. Atualmente, o excesso desses padecimentos psíquicos tem como contraponto o ideário cultural de magreza idealizado nos corpos modelados e transformados pela mídia.

Anorexia e bulimia mostram a interação entre o individual e o coletivo.

A cultura em que a pessoa está inserida, no caso, a de um padrão estético de magreza, faz com que ela busque essa identidade social para si mesma. Como o homem da pólis, com sua dimensão singular intensiva, desejante e conflitiva, o bulímico ou anoréxico, que se encontra na sociedade, quer se inserir e ser aceito no meio social.

Considera-se aqui, pólis em seu sentido original e atual, modelo das antigas cidades gregas e sinônimo de cidade. A pólis é a base da civilização Ocidental. O homem da pólis é o homem que pode se organizar e ter direito à palavra dentro de sua comunidade, é ativo e tem conhecimento de sua autonomia.

A formação de um político envolve uma reflexão pessoal ética, política, pessoal, institucional familiar, social...

O político deve ter, na base de seu fazer cotidiano, o desejo de transformar a vida daqueles que em sofrimento, procuram-no pedindo cuidados. O político também precisa estar consciente de que o fato de ser marcado pelos sentidos culturais e ter um posicionamento pessoal dentro da pólis,  suas escolhas políticas, seu time de futebol, sua religião, seus hábitos alimentares ou mesmo suas preferências literária, musical... não lhe dá o direito de saber o que é melhor ou pior para todos. Ele não pode levar consigo as insígnias culturais que poderão moldar a subjetividade dos outros.

Mas então, do que se trata essa marca de base que o político traz a partir da pólis como desejo fundamental?

Como se pode desejar a transformação sem trazer e influenciar o outro com seus conteúdos pessoais, seus sentidos próprios de mundo e de vida?

A relação entre o singular e o coletivo é complexa porque as instituições sociais, incluindo aí a família, formatam e determinam, em parte, as subjetividades, mas ao mesmo tempo são as subjetividades e seus coletivos que estruturam as instituições sociais.

(*) psicóloga clínica

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