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Falando de Obsessão e Compulsão - IV

Obsessão... Compulsão... Compulsão à Internet... Como expressão e, ao mesmo tempo, instrumento desse movimento de virtualização e globalização, a Internet tornou-se, em pouco mais de 20 anos

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 12/11/2009 às 19:44Atualizado em 20/12/2022 às 09:32
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Obsessão... Compulsão... Compulsão à Internet...

Como expressão e, ao mesmo tempo, instrumento desse movimento de virtualização e globalização, a Internet tornou-se, em pouco mais de 20 anos, importante elemento do cotidiano das pessoas no mundo industrializado. A partir de 1995, no Brasil, o acesso à Internet foi estendido à população geral, o que ampliou muito a rede de comunicação e sua abrangência, sendo que 35,5 milhões de brasileiros têm acesso à Internet dentro de suas casas, nos dias atuais.

Esse fato é devido aos múltiplos segmentos de interesses que podem ser acessados de forma praticamente imediata, desde a diversão até o trabalho. Há a possibilidade de comunicação instantânea, em tempo real ou remoto, o enorme repositório de conhecimento, por meio de sites especializados com textos, imagens e sons.

Atualmente, a Internet é uma ferramenta de disseminação, informação e interação com abrangência global, sem qualquer limitação, seja geográfica, econômica, social, de raça, de sexo, de tempo...

A rapidez da Internet...

A possibilidade de gratificação imediata da Internet...

A realidade propiciada pela virtualização se contrapõe ao que vivenciamos como nossa realidade cotidiana, em que predominam o tempo, a distância e o esforço maior. A gratificação, na vida real, vem somente após algum esforço, diferente da Internet.

Na Internet está a dimensão de um nível de processamento psíquico em que a noção de tempo, distância e contradição não estão presentes. E essa é uma condição que nos permite brincar, sonhar e mergulhar em nossos devaneios. Abre-se aí o mundo subjetivo em que as limitações que a realidade nos impõe ficam temporariamente suspensas. Entendido? Na Internet vigora o princípio do prazer.

Essa fonte de recursos e comunicação, por si só, não é nem boa nem má, tampouco neutra em relação à virtualização. É usufruída e serve de enriquecimento e interação social pela grande maioria dos internautas, sem que este uso acarrete problemas em sua vida, e vai ser utilizada para um melhor e maior contato com a realidade.

Onde está o problema? A obsessão? A compulsão?

Estima-se que de 6% a 10% dos usuários tenham um comportamento desviante ante o uso do computador e da Internet, o que prejudica sua saúde emocional, física, ou seu relacionamento com familiares, amigos. Dificulta até a profissão.

Neste contexto, a comunidade científica tem proposto o termo dependência ou adição à internet como expressões que destacam o uso intenso e fora do controle consciente do indivíduo. Na Psicanálise, o termo compulsão abrange esta noção como uma força interna, intensa e coerciva, que leva o indivíduo a agir e pensar de determinada maneira e, mesmo que esteja consciente e seja contrário àquela conduta, vê-se impelido a realizá-la, a despeito de suas intenções de inibi-la. Isso é o resultado de uma complexa interação inconsciente de conflitos e mecanismo de defesa, que, de forma disfarçada, gratifica fantasias, necessidades e desejos inconscientes, nos moldes do processo primário de nosso psiquismo.

Como compreender as compulsões do ponto de vista intrapsíquico?

A repetição ocupa o lugar da lembrança de uma situação traumática, uma vez que tenha ocorrido um fracasso no processo de elaboração psíquica. A elaboração psíquica permite que o sujeito experimente o impacto emocional de uma situação traumática e o transforme em processos psíquicos capazes de ser imaginados, pensados e verbalizados.

Deste modo, podemos recordar em vez de repetir.

(*) psicóloga clínica

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