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Falando de Dor - ll

A vida do indivíduo depende da dor? Sim, a vida do indivíduo depende da dor. Porém, a intensidade e a frequência da dor

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 18/03/2010 às 20:42Atualizado em 20/12/2022 às 07:30
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A vida do indivíduo depende da dor?

Sim, a vida do indivíduo depende da dor.

Porém, a intensidade e a frequência da dor podem exceder essa função necessária, interferindo na qualidade de vida da pessoa em sofrimento.

A intensidade ou a frequência dolorosa podem, inclusive, inabilitar para atividades da vida diária.

Desde a pré-história, infecções, traumatismos e doenças parasitárias afligiam o homem. Sem analgésicos, a dor era extremamente assustadora e fazia parte das preocupações constantes de nossos antepassados, cientes de que esse desconforto tornava o indivíduo vulnerável a qualquer ataque no grupo, e dificultava sua participação mais ativa e produtiva.

Mesmo acompanhando o homem desde os primórdios de sua existência, a dor, entretanto,  ainda não foi completamente compreendida e nem pode ser totalmente controlada.

A dor atinge todas as pessoas, exceto os portadores de insensibilidade congênita.

A dor é reconhecida como uma agressão infligida ao organismo.

É universal a sensação dolorosa e, no entanto, a dificuldade de descrever a própria dor e a impossibilidade de conhecer exatamente a experiência de sofrimento vivida por outra pessoa é comum. Essa dificuldade decorre do fato de se tratar de uma experiência individual, associada às características únicas do organismo, à história de cada um e ao contexto no qual é percebida.

Especialistas modernos da área rejeitam a abordagem tradicional de que a dor está diretamente relacionada à natureza ou extensão do tecido danificado e, numa interpretação ainda mais flexível, reconhecem as características individuais e as variáveis psicossociais como mediadoras dessa experiência tão pessoal e complexa.

Multidimensional, a dor é atravessada por componentes sensoriais, afetivos, cognitivos, sociais e comportamentais.

A dor é associada primeiramente a uma lesão do tecido e, por estar sempre acompanhada de sensação desprazerosa, deve ser entendida como experiência emocional. Essa natureza genuinamente subjetiva explica, por exemplo, por que algumas pessoas a sentem na ausência de lesão tecidual reconhecida, respondem de maneira diferente a um mesmo estímulo doloroso, e de modo semelhante diante de estímulos de intensidade e natureza obviamente diferentes.

A nocicepção é a atividade específica do sistema nervoso que possibilita a percepção de dor. Sabemos hoje que a estrutura da dor é um sistema muito mais complexo e flexível do que inicialmente se acreditava. É a plasticidade desse sistema que permite a uma pessoa responder de maneira diferente a um mesmo estímulo doloroso aplicado em situações distintas.

Como explicar a lesão sem dor de um menino que se machuca jogando futebol e não percebe a dor até o final da partida?

Como explicar a dor desproporcional à extensão do estímulo físico doloroso de  uma pessoa que sente extremamente a aplicação de uma injeção, enquanto outra extrai um dente sem anestesia, com queixas ou expressões comportamentais mínimas de dor?

Como explicar a persistência da dor após a recuperação da lesão ou amputação de um membro?

E o fracasso de procedimentos cirúrgicos bloqueadores da dor?

Para entender a complexidade e as múltiplas dimensões do fenômeno doloroso, surge a necessidade de considerar os seus aspectos fisiológico e psicológico.

(*) psicóloga clínica

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