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Falando de Dor - III

A dor coça. A dor queima, lateja. A dor incomoda. Sob diversas formas desagradáveis é que surge a dor. Quem sofre do desconforto anseia pelo seu fim?

Sandra de Souza Batista Abud
sandrasba@uol.com.br
Publicado em 25/03/2010 às 19:30Atualizado em 17/12/2022 às 06:08
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A dor coça.

A dor queima, lateja.

A dor incomoda.

Sob diversas formas desagradáveis é que surge a dor.

Quem sofre do desconforto anseia pelo seu fim?

Nem toda dor é preocupante. A dor aguda de uma torção ou ferimento sem importância, por exemplo, é uma forma de proteçã o corpo é encorajado a evitar danos maiores. Esse tipo de dor tende a ser temporário e a diminuir com o tempo.

No que se refere à dor física, morfina e outros opióides derivados da papoula, e aspirina, originária da casca do salgueiro são analgésicos de outrora e de hoje. Essas drogas trazem alívio, mas todas têm limitações e não funcionam igualmente em todos os indivíduos.

Consequências?

Efeitos adversos, como o desenvolvimento de tolerância, que requer doses cada vez mais altas para atingir o mesmo efeito terapêutico, surge entre outros.

Nas últimas décadas os neurocientistas aprenderam bastante sobre os circuitos celulares e as moléculas que transportam os sinais dolorosos, e pesquisam novas estratégias para um controle mais efetivo da dor, com menos efeitos adversos.

E a dor psíquica?

A dor mental?

Nem o bebê escapa do sofrimento psíquico. Acontece que em certas circunstâncias, ele vive afetos confusos, por não distinguir a ausência da mãe de seu desaparecimento definitivo. Confunde o fato de perder a figura materna de vista e perdê-la realmente. Só mais tarde, por volta dos 2 anos, quando souber discernir uma perda provisória de outra definitiva, poderá diferenciar a angústia da dor.

A dor é um afeto. Ela é como que um estremecimento final que comprova a vida e nosso poder de nos recuperarmos. Enquanto há dor, também temos as forças disponíveis para combatê-la e continuar a viver.

A dor é considerada como sintoma, isto é, como manifestação exterior e sensível de uma pulsão inconsciente e recalcada, como uma dor no corpo, que revela a existência de um sofrimento inconsciente. Uma dor flutuante ao sabor das situações afetivas e sem causa detectável. Uma dor de cabeça? Uma enxaqueca persistente?  Neste caso, diremos que a enxaqueca é um sintoma, isto é, uma sensação dolorosa que traduz a comoção recalcada do inconsciente. Aqui se incluem as dores psicogênicas, diversas dores corporais sem causa orgânica detectável e às quais se atribui, por falta de melhor explicação, uma origem psíquica.

A dor também remete à perversão. Quando? Quando a dor se torna objetivo e alvo de prazer sexual perverso sadomasoquista, quando a dor se traduz como uma forma de gozo.

Mas como poderia um desconforto provocar prazer?

Freud responde utilizando o conceito de apoio, segundo o qual uma excitação sexual nasce de uma excitação corporal e se apoia nela, e em certos casos, essa excitação pode se embasar em uma sensação dolorosa.

O aparecimento de uma dor é sinal de que atravessamos um limiar, uma prova decisiva.

Que prova?

A de uma singular separação de um objeto amado, que, deixando-nos, nos transtorna e nos obriga a reconstituir-nos.

A dor psíquica é então, a dor da separação.

(*) psicóloga clínica

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