A dor coça. A dor queima, lateja. A dor incomoda. Sob diversas formas desagradáveis é que surge a dor. Quem sofre do desconforto anseia pelo seu fim?
A dor coça.
A dor queima, lateja.
A dor incomoda.
Sob diversas formas desagradáveis é que surge a dor.
Quem sofre do desconforto anseia pelo seu fim?
Nem toda dor é preocupante. A dor aguda de uma torção ou ferimento sem importância, por exemplo, é uma forma de proteçã o corpo é encorajado a evitar danos maiores. Esse tipo de dor tende a ser temporário e a diminuir com o tempo.
No que se refere à dor física, morfina e outros opióides derivados da papoula, e aspirina, originária da casca do salgueiro são analgésicos de outrora e de hoje. Essas drogas trazem alívio, mas todas têm limitações e não funcionam igualmente em todos os indivíduos.
Consequências?
Efeitos adversos, como o desenvolvimento de tolerância, que requer doses cada vez mais altas para atingir o mesmo efeito terapêutico, surge entre outros.
Nas últimas décadas os neurocientistas aprenderam bastante sobre os circuitos celulares e as moléculas que transportam os sinais dolorosos, e pesquisam novas estratégias para um controle mais efetivo da dor, com menos efeitos adversos.
E a dor psíquica?
A dor mental?
Nem o bebê escapa do sofrimento psíquico. Acontece que em certas circunstâncias, ele vive afetos confusos, por não distinguir a ausência da mãe de seu desaparecimento definitivo. Confunde o fato de perder a figura materna de vista e perdê-la realmente. Só mais tarde, por volta dos 2 anos, quando souber discernir uma perda provisória de outra definitiva, poderá diferenciar a angústia da dor.
A dor é um afeto. Ela é como que um estremecimento final que comprova a vida e nosso poder de nos recuperarmos. Enquanto há dor, também temos as forças disponíveis para combatê-la e continuar a viver.
A dor é considerada como sintoma, isto é, como manifestação exterior e sensível de uma pulsão inconsciente e recalcada, como uma dor no corpo, que revela a existência de um sofrimento inconsciente. Uma dor flutuante ao sabor das situações afetivas e sem causa detectável. Uma dor de cabeça? Uma enxaqueca persistente? Neste caso, diremos que a enxaqueca é um sintoma, isto é, uma sensação dolorosa que traduz a comoção recalcada do inconsciente. Aqui se incluem as dores psicogênicas, diversas dores corporais sem causa orgânica detectável e às quais se atribui, por falta de melhor explicação, uma origem psíquica.
A dor também remete à perversão. Quando? Quando a dor se torna objetivo e alvo de prazer sexual perverso sadomasoquista, quando a dor se traduz como uma forma de gozo.
Mas como poderia um desconforto provocar prazer?
Freud responde utilizando o conceito de apoio, segundo o qual uma excitação sexual nasce de uma excitação corporal e se apoia nela, e em certos casos, essa excitação pode se embasar em uma sensação dolorosa.
O aparecimento de uma dor é sinal de que atravessamos um limiar, uma prova decisiva.
Que prova?
A de uma singular separação de um objeto amado, que, deixando-nos, nos transtorna e nos obriga a reconstituir-nos.
A dor psíquica é então, a dor da separação.
(*) psicóloga clínica