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Falando de Dor

Viver dói. A dor é parte da vida. O que tem a morte em comum com a dor? “A morte é indolor, o que dói nela é o nada

Sandra de Souza Batista Abud
sandrasba@uol.com.br
Publicado em 11/03/2010 às 20:03Atualizado em 20/12/2022 às 07:39
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Viver dói.

A dor é parte da vida.

O que tem a morte em comum com a dor?

“A morte é indolor, o que dói nela é o nada, o que a vida faz do amor. Sopro a flauta encantada e não sai nenhum som. Levo uma pena leve, de não ter sido bom. E no coração, neve.”

Nos versos do poeta Thiago de Melo, a dor da morte. A dor da ausência, a dor do vazio, a dor da saudade, a dor da perda, a dor do que não se viveu.

A dor limita o indivíduo.

Ela, a dor, se impõe.

Na Antiguidade, a dor já foi considerada um castigo mandado por deuses ofendidos. Já foi atribuída à presença de maus espíritos. A perda de substâncias vitais do organismo já foi considerada causa da sensação dolorosa. No entanto, esse problema doloroso ainda não tinha causa única e bem definida.

A peculiaridade dos aspectos emocionais e sensoriais da dor foi considerada pelas diferentes culturas e esteve presente, desde os primórdios da humanidade, no pensamento de grandes filósofos e médicos, como Aristóteles e Galeno. Ainda no século X, Avicenna escreveu o Canon of medicine – Cânone de medicina – onde foram listadas poções herbívoras, drogas e técnicas de relaxamento para curar dores. Prescrevendo preparados de ação fisiológica e química associados à intervenção comportamental – o relaxamento –, o autor afirmou também sua crença na múltipla causalidade da dor.

Os conhecimentos da medicina moderna redefiniram o enfoque dos estudos sobre os processos dolorosos, em meados do século XV.

A primeira grande influência nesse sentido foi a do filósofo René Descartes, que em 1664 descreveu a dor como uma sensação percebida no cérebro, resultante de estimulação nos nervos sensoriais. Com o crescente avanço dos conhecimentos sobre o cérebro e sistemas nervosos central e periférico, mais tarde a dor passou a ser entendida e estudada sob o enfoque principal da medicina fisiológica.

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (Iasp) foi fundada em  1973, com o objetivo de integrar as múltiplas disciplinas subjacentes ao entendimento do tema, como psicologia, anatomia e química do sistema nervoso, e, a partir daí, desenvolver estratégias adequadas para o seu manejo e controle. Estudos formais sobre a dor como sensação distinta e grupos de pesquisas começaram a se formar ao redor do mundo.

Não se pode evitar a dor. Física ou psíquica, a dor é parte da vida. Desde o nascimento até a morte, a dor está presente ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento. Temida pelo sofrimento que causa, muitas vezes é considerada mais terrível do que a morte. A experiência cruciante da dor é capaz de corroer a vontade de viver. Seus efeitos físicos afetam o sono. O apetite é alterado pela dor, resultando em fadiga e redução de nutrientes disponíveis no organismo. A dor dificulta o processo de convalescença e recuperação de indivíduos enfraquecidos e debilitados.

No corpo, a dor aparece associada a doenças, processos inflamatórios, acidentes e procedimentos médicos ou cirúrgicos.

Na mente, a dor corrói, enlouquece.

Entretanto, tão desagradável, a dor é essencial para a sobrevivência, pois exerce função protetora para o organismo. Funciona como um alarme indicador de que algo não está bem.

A dor demanda atenção.

A dor interrompe o fluxo de processos mentais, assumido prioridade sobre outras demandas cognitivas.

A dor impulsiona o indivíduo a procurar cuidados para o sintoma.

A vida depende da dor?

(*) psicóloga clínica

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