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Falando de bem viver - II

O ser humano é um animal social

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 07/11/2013 às 20:45Atualizado em 17/12/2022 às 09:39
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O ser humano é um animal social. Só chegou aqui, depois de milênios de evolução, porque aprendeu a criar e manter alianças, seja para caçar comida nos tempos da caverna, seja para fundar impérios ao longo da História, seja para arranjar trabalho e ter com quem conversar atualmente, no Facebook. Isso quer dizer que o homem busca manter e fortalecer relações sociais e para isso busca agradar e ser aceito. Ou ainda, o homem procura atender às expectativas dos outros. É assim que se age o tempo todo, das coisas banais do dia a dia, como rir da piada sem graça de um amigo, às grandes escolhas de vida, como decidir que carreira seguir. As pessoas não tomam decisões por si, tomam pelos outros, porque querem ser queridas. Muitos gostariam de ter tido a coragem de viver a vida que desejavam, e não a que os outros esperavam deles. Assim, a felicidade acaba na mão de terceiros. O problema é que fazer o que outros esperam de você tem um lado pernicioso, não deixa ninguém feliz.

O trabalho deveria ser uma chance de criar algo mais sólido, deveria ter um significado, uma chance de se tornar melhor. Deveria, mas na maior parte dos casos não é. Ainda assim, poucas são as pessoas que resolvem dedicar menos tempo e energia a seus empregos. É mais difícil largar a rotina do trabalho do que o trabalho em si. O emprego vira uma grande parte da identidade das pessoas, ao ponto de que não sabem mais quem são longe dele. Essa crise de identidade leva ao arrependimento, mais tarde.

Quem busca o tempo todo a aprovação dos outros, tem mais chance de desenvolver depressão. As pessoas esforçam-se tanto para agradar que se perdem no meio do processo, e não conseguem fazer o que realmente têm vontade, trabalhar menos, dizer “não”.

Não declarar o seu amor e ter passado pouco tempo com as pessoas queridas são dois arrependimentos muito comuns. Uma pesquisa psicológica mediu todos os fatores de biografias dos participantes para recolher dados sobre saúde, bem-estar e escolhas de vida, e chegou a uma conclusão impressionante. Aos 47 anos, o fator que mais previa a saúde e a felicidade de uma pessoa na velhice era as relações sociais que ela mantinha. O fato de ter um marido ou uma esposa importou, mas era principalmente a quantidade de amigos que eles cultivavam ao longo dos anos o mais importante. Concluiu-se que idosos de 70 anos com amigos tinham 22% a mais de chance de chegar à oitava década. Outro estudo mostrou que quem tem o hábito de dizer a pessoas próximas como elas são importantes se sente 48% mais satisfeito com as relações que mantém.

Os amigos nos dão um senso de identidade, ajudam a nos tornar algo maior do que nós mesmos e a definir quem somos. Não precisamos somente de relações humanas. Precisamos de amigos muito próximos.

Chegar ao final da vida com o desejo de ter sido mais feliz é um fato mais comum do que parece. Ser feliz depende muito das escolhas que fazemos, e não só de alguns poucos eventos de sorte esporádicos. Seria bom parar de levar a vida no automático e exercer a felicidade.

(*) Psicóloga clínica

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