A vida é cheia de regras: estudar em uma boa instituição
A vida é cheia de regras: estudar em uma boa instituição, arranjar um emprego respeitável, atender às expectativas do trabalho, dos amigos, do parceiro...
Quando acontece um imprevisto ou com a proximidade da morte, vêm o medo, a raiva, a tristeza e os arrependimentos em relação à própria vida.
Que arrependimentos são esses?
Os de sempre, não é? O de não ter tido a coragem de viver uma vida diferente, isto é, a vida desejada por si e não a desejada por outros para você... a coragem de atender aos próprios anseios e não aos de outros... a coragem de ter expressado mais os próprios sentimentos e a coragem de curtir mais a companhia dos amigos através de contatos presenciais... a coragem de ter trabalhado menos para “viver” mais... a coragem de ter sido mais feliz como na música... “viver e não ter a vergonha de ser feliz”...
Pode ser que você não queira pensar nisso ainda ou que você já esteja pensando. A verdade é que a velhice chega e a vida... passou.
Em um mundo no qual um emprego ocupa muitas horas semanais e tem um significado social mais importante do que os valores morais de uma pessoa, o trabalho anda com um peso desproporcional em relação às outras questões da vida. Nunca se trabalhou tanto! Antropólogos estimam que nossos antepassados caçadores-coletores não trabalhavam mais do que quatro a cinco horas por dia, sempre procurando ou preparando alimentos. Na Grécia Antiga, um emprego era uma sina terrível: Homero, o autor da Odisséia, escreveu que os deuses odiavam tanto os humanos que os condenaram a trabalhar arduamente como castigo. E a condenação seguiu por milênios. Mitologia...
A relação com o trabalho só mudou no século 16, colocando o trabalho no centro da vida das pessoas, onde este permanece até hoje. Mas há uma crise na relação com o trabalho. De acordo com uma pesquisa da consultoria americana Mercer, feita com mais de 1.200 funcionários brasileiros, 56% dos entrevistados afirmam que consideram seriamente pedir demissão. Para os trabalhadores do Brasil, o principal fator motivacional é o tipo de emprego que ele faz. E é ele que está em conflito.
Segundo o filósofo francês Alain de Botton, a crise com o emprego que estamos vivendo é a falta de sentido. Antigamente, as pessoas faziam ou realizavam algo com o seu trabalh eram padeiros, costureiros, vendedores. Esse tipo de ocupação, que tem uma relação direta com o produto final, quase desapareceu: foi substituído por trabalhos mais segmentados e burocráticos dentro de grandes empresas. Na lista de cargos destas empresas, encontramos um “gerente de operações pleno” ou um “analista de infraestruturas júnior”.
O que eles fazem? Qual o significado do seu trabalho?
(*) Psicóloga clínica