Há algum critério que nos leve a confiar em alguém?
Há algum critério que nos leve a confiar em alguém? Apenas a experiência comum pode desvelar as intenções de um amig “Não existe amizade estável sem confiança e não há confiança sem tempo.
O tempo nos mostra o quanto uma pessoa é amável, o quanto ela é digna de nossa amizade. Sendo o amor a virtude dos amigos, uma pessoa é amável tanto quanto ela traz à tona a nossa própria capacidade de amar e de sermos virtuosos. Em outras palavras, a qualidade principal de um amigo, o que deve nos levar a amá-lo, é a possibilidade que ele nos oferece de nos fazer amar.
O que parece ser bom para uma pessoa pode não ser para outra. Alguém que não saiba de antemão o que é absolutamente bom pode ser um bom amigo?
Na amizade perfeita, o amor de um amigo por outro amigo nos remete à importância da relaçã “o amigo é amado pelo amigo enquanto amigo”. Mas não haveria um motivo melhor para se amar, uma razão específica, uma característica pessoal? Quando amamos alguém por isso ou por aquilo, a amizade se mantém enquanto essas coisas existirem para nós, o que é diferente da relação em que o amigo é amado como amigo, pois, nesse caso, a pessoa “quer que seu amigo exista e viva para o benefício dele mesmo.
A manutenção da amizade depende mais da confiança do que do amor. Por outro lado, se não há confiança nas intenções do amigo, também não há boas razões para preservar essa amizade.
Aristóteles distingue a amizade ética da amizade política. Somente a constância de um bem querer nos faz crer num amigo. A amizade torna-se ética se os comportamentos de uma pessoa nos inspiram confiança. Nas muitas associações que se formam diariamente numa grande cidade, não há tempo para isso. O que não impede o surgimento de amizades políticas, como, por exemplo, “a dos vendedores e dos compradores”. Neste caso, o ético se distingue do político pelo fato de implicar alguma intimidade entre os amigos. Sem ter essa convivência, os amigos políticos procuram outras garantias para firmar sua relação. A amizade é política e legal quando instituída por contrato, mas quando os amigos se entregam uns aos outros, a amizade pretende ser ética e de camaradagem.
Essas duas formas de amizade não se diferem pelo fato de ocorrerem em casa, na rua ou no trabalho, mas por que uma se pauta pelo contrato e a outra pela confiança. As amizades baseadas em contratos geralmente terminam com a finalização de algum serviço ou atividade previamente combinada sem que, necessariamente, os envolvidos confiem uns nos outros ou se queiram mutuamente. Numa sociedade organizada, algumas relações contratuais são imprescindíveis, mas elas não devem substituir as relações de confiança e de amor. Se não confiamos, não nos entregamos e não conseguimos amar.
Amistar-se é tornar-se amigo. Amigos convivem amistosamente, ou seja, de modo amistoso, cordialmente, com amizade.
(*) Piscóloga clínica