Dizem que isto aconteceu no tempo dos romanos. Não sei. Também não sei onde li a estória
Dizem que isto aconteceu no tempo dos romanos. Não sei. Também não sei onde li a estória. O que importa não é a fonte, é a estória.
Era um dia de festa em Roma. Meia-dúzia de cristãos iria servir de “sparring” a um famoso leão africano, recentemente agarrado lá nos confins da Núbia. Havia comentários. Torcida. Palpites. Apostas. Parecia até jogo entre Corinthians e Palmeiras. Anfiteatro cheio. Luzidias coortes de legionários. Gladiadores. Patrícias. Assistência recorde. Lá em cima, na tribuna de honra, o Imperador com seu acompanhamento de cupinchas, de assessores e apadrinhados, futriqueiros e bajuladores. Soam as trombetas. Um punhado de cristãos é atirado no centro da arena. Vai haver sangue. O povo ruge. Uma jaula se abre e a fera núbia se aproxima: cinquenta metros, vinte, dez, cinco... Justamente nesse momento, levanta-se um cristão. Corajosamente marcha ao encontro do leão. Aquele gesto é tão insólito que até o rei dos animais se surpreende. O cristão se aproxima cada vez mais. Vai até a orelha do animal e diz qualquer coisa. A fera africana treme com aquele cochicho. Arrepia-se todo, arregala os olhos e volta para a jaula em louca disparada. Muita gente grita que era milagre. Mas não foi. Aquele cristão era um homem prático. O que ele disse ao ouvido do leão foi simplesmente ist “Olhe aqui, senhor leão, se Vossa Excelência nos devorar, o imperador vai fazer um discurso de duas horas elogiando seus feitos pelo bem do povo e V.Exa. terá que ouvir até o fim”.
Entre as coisas que mais detesto estão, em lugar de destaque, os discursos e os sermões longos. Principalmente, quando o orador despeja em cima de uma assistência sonolenta, vinte minutos de incompetência. Aqui, entre nós, existe coisa pior do que um discurso? Depois de um almoço, por exemplo, quando um carrasco qualquer se levanta, arranca do bolso um bloco de asneiras e, com ares de conquistador grego, desova tudo aquilo em cima da gente, você não sente nada?
Detesto discursos compridos. O mesmo digo dos sermões religiosos de vinte, trinta minutos. Falar vinte minutos para que? O povo se cansa e não presta mais atenção. Em cinco minutos pode-se falar muita coisa. Basta ter um mínimo de inteligência.
De alguns discursos e sermões eu gosto. O bom orador fala pouco e diz muito. Ao contrário daqueles que falam muito e dizem pouco. Um bom discurso é um discurso curto. Um bom sermão é um sermão curto. Bom orador é aquele que não se preocupa em se mostrar. Bom orador é aquele que, inteligente, desconfia que o povo, depois de cinco minutos de espera, desliga-se e vai pensar noutra coisa. O mau orador fala só para si mesmo.