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Diante de nossos problemas

Li, de Mirza Saad Ud Din Ahmad (Paquistão), no Jornal da AFAENG, o seguinte texto:

Terezinha Hueb de Menezes
thuebmenezes@hotmail.com
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:05
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Li, de Mirza Saad Ud Din Ahmad (Paquistão), no Jornal da AFAENG, o seguinte text

“O carpinteiro que contratei para me ajudar a restaurar uma velha casa de fazenda tivera um dia de trabalho difícil. Perdeu uma hora com o pneu furado, depois a serra elétrica quebrou e, por fim, sua velha caminhonete não quis pegar. Fui levá-lo em casa e, durante o trajeto, o homem se manteve em silêncio.

Quando chegamos, ele me convidou para conhecer sua família. Enquanto andávamos até a porta de entrada, ele se deteve diante de uma pequena árvore e tocou a ponta dos galhos com as duas mãos.

Ao abrir a porta, ele sofreu uma transformação espantosa. Abriu um largo sorriso e abraçou a mulher e os dois filhos pequenos. Depois me acompanhou até o carro e, quando passamos pela árvore, perguntei-lhe por que a tocara ao chegar.

_ Esta é a minha árvore dos problemas – respondeu ele. Sei que não posso evitar os problemas de trabalho, mas eles não têm lugar em minha casa e em minha família. Por isso eu os penduro na árvore, todas as noites, quando chego. No dia seguinte, eu os pego de volta. E o engraçado, continuou ele, sorrindo, é que quando venho buscá-los de manhã, eles não são tantos quantos eu me lembro de ter pendurado na noite anterior.”

Fiquei pensando, após a leitura do texto, quanto seria bom se cada um de nós pudesse usar dessa simbologia, mecanismo, mesmo, para não entristecer aqueles que nos rodeiam: conseguir uma “árvore” ou qualquer outro símbolo que servisse de repositório para nossos problemas.

É comum, ao ser humano, descarregar seu mau humor nas pessoas mais próximas, muitas vezes, as mais queridas: a necessidade de extravasar os problemas toma um trajeto torto – o normal e aceitável reside em compartilhar, com calma e moderação, aquilo que nos aflige, e não em descarregar no outro as consequências de nossos  problemas, como que querendo culpá-lo por nossas frustrações ou aflições.

Compartilhar, sim: com a esposa, com o esposo, com os filhos, com os amigos. Na vida, é fundamental que tenhamos quem nos ouça, quem nos auxilie a superar o que nos aflige, mas sem afligir o outro. Muitas vezes, pessoas que se apresentam extremamente finas e educadas no ambiente de trabalho, suportando, com paciência, o mau humor do chefe, em casa, com a família, mostram-se autoritárias e grosseiras, como que querendo desforrar as pressões do dia a dia.

Na verdade, todos temos problemas, tristezas, frustrações. Mas isso não nos dá o direito de provocar o sofrimento daqueles que estão à nossa volta, destilando o fel que nos amarga a vida.

A antiga pedagogia costumava ensinar que o professor, antes de adentrar a sala de aula, deveria pendurar o “capote” de seus problemas do lado de fora, para não deixar que interferissem no relacionamento com os alunos e no bom desempenho de seu trabalho.

Fica, aqui, a sugestão – para mim mesma e para os meus leitores: será que não valeria a pena elegermos uma árvore, ou uma planta qualquer, como repositório simbólico de nossos problemas? Tenho certeza de que a medida irá tornar mais sereno e participativo o convívio com os que nos rodeiam – na família, no trabalho, na sociedade, enfim.

(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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