Não é uma crônica sobre a amizade, mas à amiga de Evódio, que, quando fala dela, enche de sorrisos o seu olhar. Evódio a conheceu nessas peças que o destino emplaca
Não é uma crônica sobre a amizade, mas à amiga de Evódio, que, quando fala dela, enche de sorrisos o seu olhar. Evódio a conheceu nessas peças que o destino emplaca a todos nós, principalmente quando não se pensa nele. Disse-me Evódio que ela é uma mistura de simpatia e beleza. Que ela tem um ar largadão envolvido à vaidade, de sorriso cativante de seriedade natural, com gestos meigos e de rudeza a se defender de intrusos. É espontânea ao falar, entretanto pensativa com a vida, e as coisas que a compõem. Ela é sem formalidades, chega-se e conversa; se ela gostar, gostou. Senão, não tem jeito. No entanto, ela não é de julgar pelas aparências, diz o que importa; é como a pessoa é. E sendo assim, não tem como ela se esconder, porque, pelo olhar, se sabe qual é a tendência do sujeito na frase. Evódio me falou dela com tantas propriedades que resolvi homenageá-la, homenageando-o. Afinal, escrevo tanto sobre as suas desventuras que não seria agora, num bom momento, que me negaria a atender a esse pedido. homenageando-o, afinal, quando posso escrevo sobre as suas desventura que não seria agora, num bom momento, que me negaria a atender a esse pedido.
Evódio, ao chegar ao churrasco de amigos, a encontrou. Ela cuidava da carne, olhava a cerveja na geladeira, atendia aos pedidos musicais, abria a porta para os convidados... Chegaram até crianças pedintes e ela as pôs para dentro, deu carne, pão e guaraná e, depois, as mandou para casa. Toc toc... Bate à porta, ela atende de sorriso no rosto e com as mãos estendidas para um novo cumprimento. Quando acabava a cerveja, lá vinha ela organizando a vaquinha para uma nova rodada. Menina estranha, pensou Evódio. Parece-me que o seu divertimento é divertir os outros. E ficou ali a observá-la. Mergulhou em seus pensamentos de olhos abertos e fixos nela. Passou a ter dúvidas sobre a sua beleza. Olhava-a, e ela era linda; olhava novamente, nem tanto, mas ela tem uma meiguice, uma ternura afável, tornando-a bela — pensava Evódio. No entanto, ele tentava desviar seu olhar, mas eles se contorciam, voltando-se para ela. Ele a observa em seu embalo de dançarina. Sorri ao pensar: ela joga bola, joga sinuca, anda de bicicleta e nada disso a faz menos menina, a sua dança é de uma leveza de anjo. É como se ela o convidasse a conhecer o céu e a se perder no inferno dos pensamentos. Lembrou-se do dia em que a viu jogando bola em disputa feminina a comandar o time, mesmo com os pés machucados. Evódio se viu envolto em suas observações e perdido em seus referenciais sociais, enquanto o seu pensamento não teve outra estrada senão o da modernidade. Toc toc... Bate à porta. Ela só olha, sem largar o parceiro. Um frio corta a barriga de Evódio, os seus olhos dilatam, o redemoinho de pensamentos continua entre o bem e o mal... Ele tenta elevar os pensamentos a algo fora dali; “interrogue aos anjos, ou ao chefe deles, o que se pode pensar”! Um cheiro acre e suave entra por seus poros, abrindo-os em pura adrenalina em ebulição e se aloja em seu cérebro. No entanto, ele só lembra que ouviu uma voz dizend vamos dançar? Não havia pernas naquele momento que pudesse acompanhá-lo. Talvez tenha dançado com pernas que se entrelaçam como um sonho, que não se desdobra em outro dia.
(*) professor