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Criança também sofre... III

O que poderia levar um pai ou uma mãe a agredir física ou psicologicamente o seu filho ou filha?

Sandra de Souza Batista Abud
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 14:01
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O que poderia levar um pai ou uma mãe a agredir física ou psicologicamente o seu filho ou filha?

São vários os fatores que podem levar parentes próximos a agredirem e, em última instância, matarem crianças e adolescentes. Para especialista em infância e adolescência, a origem das agressões é transgeracional, isto é, avós não impuseram limites e criaram indivíduos narcísicos despreparados para a paternidade e maternidade. Neste contexto, quando as crianças criadas sem limites se tornam pais, ainda são infantis e não têm condições de educar seus filhos. Quando se rivalizam com eles, usam a força para impor a sua vontade, cometendo agressões.

Outro problema que acomete nossos pequenos é o transtorno obsessivo-compulsivo mencionado anteriormente. É difícil diagnosticar o problema, pois há dificuldade no reconhecimento de que os sintomas são excessivos ou sem sentido e geralmente esses sintomas são escondidos por vergonha ou medo. Crianças se isolam mais do que adultos, com vergonha de falar sobre suas angústias. E, frequentemente, o limite entre o que é parte esperada de características do desenvolvimento infantil e a patologia se confundem. Um dado interessante sobre este transtorno é que em crianças com TOC, quanto menor a idade, maior a prevalência de meninos. É importante diagnosticar e tratar e o objetivo principal do tratamento é ajudar a criança ou o adolescente a ter um desenvolvimento sem prejuízos psíquicos.

Outra questão que merece reflexão é a influência da mídia na educação e na formação da personalidade infantil.Especialistas alertam para as mensagens que transformam o comportamento das crianças, para a necessidade de controlar e minimizar a influência da publicidade de maneira multidisciplinar e com intervenções familiares.

Que família não viveu o dilema cruel entre fazer a prole feliz com o presente mais desejado ou evitar que essa ação tão bem-intencionada evite uma frustração benéfica para a constituição do caráter de seu filho?

O marketing atrapalha o desenvolvimento das crianças sob todos os aspectos, afetando das mais ricas às mais pobres, sem distinção socioeconômica ou geográfica. Empresas bombardeiam as crianças com mensagens que não são boas para elas, são totalmente nocivas. O marketing para crianças enfraquece os valores democráticos ao encorajar a passividade, o conformismo e o egoísmo. Ameaça a qualidade do ensino público, inibe a liberdade de expressão e contribui para problemas de saúde pública, como a obesidade infantil, a dependência ao tabaco e o consumo precoce de álcool.

Muitas crianças passam pelas primeiras séries escolares certas de que seu bom desempenho escolar, sem esforço, as define como espertas ou talentosas.

Mais de 30 anos de investigação científica sugerem que a ênfase excessiva no intelecto ou no talento deixa as pessoas vulneráveis ao fracasso, com medo de enfrentar desafios e, relutantes, remediar suas deficiências. Esses estudantes nutrem a crença implícita de que a inteligência é inata e fixa, o que faz com que se esforçar para aprender pareça menos importante do que ser ou parecer inteligente. Essa concepção as leva a ver desafios, erros e até o esforço como ameaças a seu ego, em vez de encará-los como oportunidades para melhorar o desempenho, o que faz com que percam a confiança e a motivação, quando o trabalho deixa de ser fácil.

Elogiar excessivamente capacidades inatas das crianças reforça essa mentalidade. E, muitas vezes, impede que jovens atletas, profissionais e até relacionamentos afetivos alcancem todo seu potencial. Por outro lado, nossos estudos mostram que ensinar pessoas a ter uma “mentalidade de crescimento”, que estimula o esforço em vez de enfatizar especificamente a inteligência ou o talento, as ajuda a serem grandes realizadoras – tanto na escola quanto na vida.

Vamos cuidar melhor de nossas crianças?

(*) psicóloga clínica

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