Ouvi, de determinada amiga que não encontrava já havia algum tempo, o seguinte depoimento: ela fora educada com muita rigidez
Ouvi, de determinada amiga que não encontrava já havia algum tempo, o seguinte depoiment ela fora educada com muita rigidez. A mãe quase não a deixava sair de casa – o que era muito difícil para uma jovem cheia de entusiasmo com a vida. Nada de passeios, viagens, namorado. A vigilância, sempre constante. Passou o tempo, veio o casamento, vieram os filhos. Ela, então, para não repetir os erros da mãe, envereda-se por caminho opost educa os filhos – duas mulheres e um homem – com liberdade, inclusive direito a viagens e outros passeios. Não queria vê-los com traumas futuros. Novamente o tempo se vai: agora os filhos estão casados, já há netas adolescentes, e uma das filhas dessa minha amiga, certo dia, fala à mãe: “Eu não faço o que a senhora fazia conosco. Uma loucura permitir que nós saíssemos como a senhora deixava. Comigo não. Nada de sair sozinhos, nem viajar com outras pessoas. Uma loucura o jeito como a senhora nos criou.”
Vejam os leitores como a vida apresenta surpresas: a filha deixou de seguir o exemplo educacional que a mãe lhe proporcionara, com liberdade e direito de ir e vir – com orientações seguras, tenho certeza -, para seguir o estilo de criação que a avó utilizara com sua mãe.
Como são intrincados os caminhos educacionais! Nunca sabemos a medida exata no modo de agir na educação dos filhos. E, pior: a experiência vivenciada por nós nem sempre serve de suporte ou de exemplo para ações presentes ou futuras dos que nos rodeiam. E pior ainda: quantas vezes os pais agem na certeza do acerto no modo de ser e, lá na frente, numa esquina qualquer da vida, recebem do filho a surpreendente fala de que a educação recebida não foi a desejável e nem aquela que passaria para os próprios filhos.
Importante pensar que a vida se mostra de forma cíclica: pessoas que receberam uma educação muito rígida normalmente não querem repetir com os filhos aquilo que as contrariara no passado. Vem daí uma abertura maior no trato educacional. Da mesma forma, filhos que vivenciaram uma educação muito liberada tendem, quase sempre, a utilizar um processo educacional mais rígido com os filhos.
É instigante pensar em como a experiência de uma pessoa pode interferir no modo de pensar daqueles que estão à sua volta: nem sempre conseguimos detectar quais serão as consequências em relação às atitudes por nós julgadas mais aceitáveis e compatíveis em situações educativas.
Em matéria de educação de filhos, caminhamos no “fio da navalha”: não há como adivinhar acertos e ou erros, causas e consequências. Nem como encontrar a forma exata do equilíbrio. Na verdade, caminhamos procurando acertar. Se acertamos ou não, só o futuro poderá dizer.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro
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