Em meu tempo de adolescência e mocidade, o país de nossos sonhos eram os Estados Unidos.
Em meu tempo de adolescência e mocidade, o país de nossos sonhos eram os Estados Unidos. Imitar os americanos, conhecer aquele país, estudar numa universidade americana era privilégio. Todos nós conhecíamos os cantores de lá: Bing Crosby, Pat Boone, Doris Day, Nat King Cole, Louis Armstrong, Sammy Davis, Ella Fitzgerald e outros. Como os filmes americanos eram os mais em voga, os atores americanos eram os mais conhecidos: Rock Hudson, Tyronne Power, Buck Jones, James Steward, Greta Garbo, Dorothy Lamour, Jennifer Jones e mais algumas dezenas. Enfim, os americanos eram os maiores do mundo. Invencíveis. Poderosos. Ricos. Na Segunda Guerra Mundial, choramos com o desastre de Pearl Harbor. Depois vieram os grandes comandantes, General Patton, Eisenhower, Mark Clark. Foi grande nossa alegria quando os americanos invadiram a Normandia, empurraram os nazistas para sua terra e os massacraram em festa que Paris inteira chorou. Eram para nós o símbolo da democracia e da liberdade. Eu, jovem, sonhava com os Estados Unidos. Mas o sonho nem sempre é sonho. Em março de 1955, o Cardeal Carlos Carmelo Motta fez uma visita a Dom Alexandre, em Uberaba. Trouxe como secretário o Padre Motinha, que chegara recentemente dos Estados Unidos. Durante o almoço, curioso, eu fazia perguntas sobre seus estudos de Teologia na Universidade de Notre Dame. O Cardeal Motta, que via meu encantamento, sem mais nem menos, me pergunta: “Prata, você quer estudar nos Estados Unidos?” Nem sequer esperou pela resposta. Voltou-se para seu secretário e disse o que eu nunca podia esperar na vida: “Escreva para o Cardeal O’Hara e peça uma bolsa para o padre”. Resumindo, dois meses depois eu recebi um comunicado da Universidade, concedendo-me uma bolsa de dois anos. Mais dois meses, eu já estava matriculado. Estava realizando meu sonho. Iria especializar-me em Ciências Sociais no maior país do mundo. Lá, encantava-me com tudo. Com o povo acolhedor. Com a educação cívica. Com a honestidade. Com o sentido apurado do Bem Comum. O carinho como me tratavam. Vivi um tempo de felicidade. Mas, como diziam os antigos, não há bem que sempre dure. Com o tempo, o castelo começou a desmoronar. Comecei a acordar do sonho. Aquele grande país, defensor da democracia, começou a apodrecer. Encheram-se de orgulho. Tornou-se um povo opressor dos mais fracos. Julgaram-se os donos do mundo. Seu imperialismo era cruel. Cuba, Granada, Líbia, Chade, Vietnam, Afeganistão, Iraque, todos sofreram com sua prepotência, com suas bombas inteligentes, com seu napalm, com seus marines, com seu Serviço de Inteligência. Abriram prisões secretas noutros países e partiram para a tortura. Todos se lembram da aldeia de My Lai e agora da prisão de Guantânamo. Sonhos são sempre sonhos. Se os sonhos se desvanecem, a esperança não morre. Estamos voltados para Obama. Para a mudança. O mundo todo espera por ele. Que o Espírito de Deus dê a ele os dons da Sabedoria e da Fortaleza para que sua pátria volte a ser o que era em nosso tempo de adolescência. “Come on, boy”. (*) thprata@terra.com.br Padre Prata escreve aos sábados neste espaço