Evento voltado à valorização da produção artística de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) (Foto/Divulgação)
Apesar de o Censo 2022 apontar que apenas 1,2% da população de Uberaba está dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o número está longe de refletir a realidade vivida por famílias na cidade. A avaliação é da ONG Laço Azul, que acolhe e acompanha pessoas autistas e seus responsáveis. Atualmente, a entidade tem cerca de 850 autistas cadastrados — e esse número cresce a cada dia.
Em entrevista ao Jornal da Manhã, Luiza Coelho, Karla Coelho e Mariângela Terra Branco que são respectivamente presidente, secretária e tesoureira da Laço Azul em Uberaba, disseram que a metodologia do Censo contribuiu para a subnotificação. Segundo elas, a pergunta sobre o autismo foi feita de forma aleatória, ou seja, não apareceu nos questionários de todos os domicílios, o que excluiu muitas famílias do levantamento.
Além disso, elas alertam que o número reduzido de diagnósticos formais, motivado pela falta de especialistas na rede pública, agrava o problema. “Não temos neurologistas ou psiquiatras no SUS. O diagnóstico fica inacessível para muitas famílias, que acabam desistindo da busca por medo, falta de informação ou por não saberem onde procurar ajuda”, apontam as representantes da ONG.
Luiza, Karla e Mariângela ainda ponderam que, na prática, o processo de diagnóstico é demorado e burocrático. O sistema público exige laudos de especialistas que não existem em número suficiente, o que retarda o acesso a tratamentos fundamentais para o desenvolvimento da criança. “O tempo de espera é longo e desastroso. O autista não pode perder um segundo sequer de estimulação”, alerta a ONG. Em média, as crianças chegam à Laço Azul diagnosticadas aos 3 anos, mas há casos desde os 12 meses até a fase adulta.
As representantes da ONG também alertam que a desigualdade social aprofunda ainda mais o problema. Famílias com recursos conseguem pagar consultas e terapias, enquanto as mais pobres enfrentam anos de espera. “Com isso, perdemos oportunidades de desenvolvimento, e as consequências aparecem nas escolas: crianças sem apoio, professores adoecidos e famílias desesperadas”, diz. Elas criticam a falta de capacitação dos profissionais da Educação e a ausência de materiais adaptados e apoio escolar adequado para estudantes no espectro.
Apesar do aumento dos diagnósticos nos últimos anos, a equipe da ONG alerta que o crescimento da prevalência do autismo pode ir além da maior conscientização. Cita estudos que apontam fatores ambientais como poluição, agrotóxicos, alimentos ultraprocessados e intoxicações por metais pesados como possíveis causas. “Precisamos falar sobre isso com urgência. A previsão é que, no futuro, 1 em cada 2 nascidos possa estar no espectro autista”, alertam Karla, Luiza e Mariângela.
Para mudar esse cenário, a ONG defende ações concretas do poder público, como a formação de médicos para o diagnóstico precoce e uma reestruturação urgente da educação inclusiva. Além disso, chama a sociedade a se envolver: “A causa do autismo é de todos. Precisamos de empatia, informação e apoio. Seja participando, doando, acolhendo ou apenas ouvindo. Juntos, podemos combater o preconceito e promover uma sociedade mais justa para todos”, finaliza.
Como é feita a pesquisa do IBGE?
O dado de que 1,2% da população de Uberaba tem autismo vem de uma pesquisa amostral feita pelo IBGE dentro do Censo 2022. Isso significa que nem todos os moradores foram questionados sobre autismo, apenas uma parte deles.
Segundo explicou o coordenador de área do IBGE em Uberaba, Marshall Marangoni, durante entrevista à Rádio JM, esse tipo de informação foi coletado por meio do questionário ampliado, com cerca de 70 perguntas, aplicado em 10% dos domicílios de Uberaba — cerca de 12 mil residências. Esse percentual varia conforme o tamanho do município: em cidades menores, como Água Comprida ou Conquista, a amostragem pode chegar a 50% dos lares.
Esses dados servem como estimativas estatísticas e são calculados com base em métodos científicos, garantindo representatividade da população total.