Odair José relembra censura, fé, sucesso e promete show emocionante em Uberaba

Odair José se apresenta nesta semana em Uberaba e promete um show repleto de emoção, histórias e canções que marcaram gerações. Em entrevista à Rádio JM, o cantor falou sobre sua trajetória de mais de cinco décadas na música brasileira, recheada de polêmicas, momentos marcantes e canções que ainda hoje emocionam o público.

Com um repertório recheado de sucessos, ele adiantou que o público poderá esperar músicas como "Cadê Você?", "A Pílula" e "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar", todas envolvidas em histórias com a censura. 

Durante a conversa, Odair relembrou os tempos em que enfrentou a repressão da ditadura por conta de suas letras ousadas para a época. "Eu tive várias músicas censuradas. A Pílula foi uma delas, Noite de Desejo também. Eles diziam que eu mexia com a moral, que avançava nos costumes", contou. Um dos episódios mais marcantes foi quando a canção "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar", que fala sobre um homem apaixonado por uma garota de programa, foi interpretada pelos censores como uma crítica indireta ao governo. "Quando expliquei que era sobre uma prostituta, eles ficaram ainda mais horrorizados", lembrou, rindo. 

Outra história curiosa envolve o disco O Filho de José e Maria, lançado em 1977. O álbum, que narra a vida de um homem desde o nascimento até a morte, foi interpretado como uma referência a Jesus Cristo em versão moderna. A censura barrou metade das músicas e a Igreja chegou a ameaçá-lo de excomunhão. "O bispo de Campo Grande disse que eu seria excomungado, mas acho que nem chegou a acontecer. Só sei que isso me atrapalhou bastante. Fiquei muito tempo sendo lembrado só por isso", afirmou. 

Odair também compartilhou memórias do início da carreira, quando deixou Goiânia aos 17 anos para tentar a sorte no Rio de Janeiro. Chegou com pouco dinheiro e, depois de uma semana em hotel, passou a dormir na rua. "Dormi na escadaria do Teatro Municipal, onde recentemente recebi um prêmio como melhor cantor romântico. Achei simbólico", contou. Sem apoio da família, que era contra a carreira artística, ele insistiu até conseguir mostrar suas composições nas gravadoras e teve a primeira música gravada por Denise Barreto em 1968. 

Sobre sua relação com o rótulo de "cantor das empregadas domésticas", que surgiu nos anos 70, ele explicou que suas músicas abordavam temas sociais e buscavam trazer à tona debates importantes. “Na época, a empregada doméstica não era reconhecida como profissão. A música ajudou a chamar atenção pra isso”, disse. O apelido surgiu também de uma brincadeira de Rita Lee com Paulo Coelho, que o chamaram de "terror das empregadas, distribuindo pílulas e arranjando namorados". Apesar da fama, ele revela que nunca viu fotos suas nos quartos das domésticas. “Era sempre o Roberto Carlos”, brincou. 

Com cerca de 500 composições ao longo da carreira, Odair José segue produzindo. No fim do ano passado, lançou o disco Seres Humanos e a Inteligência Artificial, que traz reflexões sobre os tempos modernos. No show deste sábado, além dos clássicos, ele promete apresentar duas faixas desse novo trabalho. “Enquanto eu tiver saúde, vou rodar o país cantando. A felicidade não existe, o que existe são momentos felizes. Vamos viver esse momento juntos em Uberaba”, convidou.