IBGE

Invisibilidade da deficiência: mais da metade das calçadas de Uberaba têm obstáculos

Em nota enviada à reportagem, a Prefeitura de Uberaba se restringiu a informar que a responsabilidade pela conservação e adequação das calçadas é dos proprietários dos imóveis; ainda, que o Plano Diretor prevê adequações de calçadas

Joanna Prata
Publicado em 06/06/2025 às 11:13
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Mais da metade das calçadas em Uberaba apresenta obstáculos que dificultam a locomoção de pedestres, segundo o IBGE. O problema afeta principalmente pessoas com deficiência, que enfrentam riscos diários para se deslocar pela cidade. A Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios revelou que 56,54% dos domicílios uberabenses têm algum tipo de obstáculo. Contudo, os dados do instituto refletem uma realidade que pessoas com deficiência, como Valdomiro Silva e Ercileide Laurinda da Silva, vivem diariamente.

Valdomiro tem deficiência visual completa e se desloca com o auxílio de uma bengala. Ele descreve o clima de insegurança que vive em Uberaba, inclusive na região central, onde o piso tátil é pouco representativo e quase não há sinais sonoros. Nos bairros, então, são inexistentes. “Outro dia um motorista atropelou minha bengala. Quase foi em cima de mim”, relata ao falar da dificuldade de atravessar ruas no entorno da Praça Concha Acústica.

Na opinião dele, o descaso se estende a locais estratégicos e bastante frequentados, como a rodoviária. “Não tem piso tátil, nem sinalização. A gente se perde. Uberlândia tem. Por que aqui não tem?”, questiona. Para ele, a falta de cuidado com a acessibilidade é evidente até em locais que receberam alguma estrutura, como o calçadão da Artur Machado: “Tem piso tátil, mas as barracas ocupam. A gente precisa desviar”, lamenta.

A campeã olímpica Ercileide Laurinda não vive situação muito diferente. Para ela, Uberaba é um campo de obstáculos. Paratleta que coleciona medalhas e títulos relevantes, Ercileide relata o constrangimento da invisibilidade das pessoas com deficiência. “Na calçada você não me vê. Eu ando pelo meio da rua. Tem buraco, degrau, rampa malfeita e garagem elevada. É muito constrangedor”, diz. Ela revela que em muitos pontos, como na rua Governador Valadares, a cadeira de rodas não consegue sequer passar por causa de postes mal posicionados. “Tem lugar que o poste ocupa toda a calçada. É um descaso”, lamenta.

Nos bairros, segundo Ercileide, a situação não é melhor. “Tem muita raiz de árvore quebrando a calçada. Quando a gente reclama, um joga a responsabilidade para o outro: morador diz que é a prefeitura, prefeitura diz que é o morador. E a gente, cadeirante, paga o preço”, desabafa.

A falta de fiscalização e de políticas públicas eficazes de acessibilidade formam discurso único entre as pessoas com deficiência de Uberaba. “Se a Prefeitura cobrasse dos donos dos imóveis, muita coisa melhoraria. Mas do jeito que está, é só promessa”, lamenta Ercileide. Para Valdomiro, faltam medidas simples, como sinalização e rampas adequadas: “O básico não é feito.”

A reportagem do Jornal da Manhã acionou a Prefeitura de Uberaba acerca da precariedade da acessibilidade na cidade. Em nota, o Departamento de Posturas informou que, conforme a legislação municipal, a responsabilidade pela conservação e adequação das calçadas é dos proprietários dos imóveis. Quando o imóvel é público, a obrigação recai sobre o respectivo órgão. 

A Secretaria de Planejamento (Seplan) acrescenta que está elaborando um plano específico para calçadas dentro da atualização do Plano Diretor, com padrões que atendam às características de cada local. A Prefeitura reconhece as dificuldades no centro histórico, que possui calçadas estreitas e irregulares, e afirma que cada caso está sendo analisado individualmente, levando em conta a viabilidade técnica e a realidade de cada área.

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