ARTICULISTAS

Bandeira a meio mastro

Observo da janela do meu local de trabalho e vejo o firmamento. Algo na paisagem como se fosse a tristeza, pintou as nuvens de tonalidades embaçadas

João Eurípedes Sabino
Publicado em 25/12/2009 às 22:47Atualizado em 17/12/2022 às 05:45
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Observo da janela do meu local de trabalho e vejo o firmamento. Algo na paisagem como se fosse a tristeza, pintou as nuvens de tonalidades embaçadas que tocavam com o meu mais profundo sentir. O sol, apesar de radiante, parecia dizer: “Hoje minha luz registra a partida de um ser especial, Aparecida Conceição Ferreira”. Não fui longe com as minhas reflexões para concluir que só senti tristeza igual, no dia 08 de abril de 1980, quando vi partir minha saudosa mãe.

O bairrismo me aflorou e, comparando dona Aparecida a uma bandeira que sempre tremulou aos ventos, nesse 22/12/09 foi hasteada a meio mastro. As mãos dos que a acompanharam por toda a vida, presentes ou não no seu último dia, ergueram aquele pavilhão de paz até meia altura. A filha que levou honrosamente o nome de Uberaba aos quatro cantos do planeta silenciou para sempre. O seu exemplo e a sua dignidade aqui ficarão para receberem os tributos de justiça que lhe devemos.

Ao mirar o histórico de dona Aparecida vejo o quanto ela foi genial e milionária. Nasceu com dois tesouros que sempre usou: a bondade e o prazer de servir. Menos do que meia dúzia de vestidos e um ou dois pares de chinelos lhe eram o bastante, ainda que estivesse em visita a um palácio. A família, os amigos, as crianças do Lar da Caridade, os pacientes do Hospital do Pênfigo, os aconselhamentos que fazia, as visitas recebidas e a irradiação constante do bem, eram as verdadeiras riquezas de Aparecida Conceição Ferreira.

Volto à minha adolescência e revejo os pequenos cofres de madeira sobre os balcões nas casas comerciais de Uberaba expondo fotos de pacientes acometidos de Fogo Selvagem. O povo se condoia e ajudava a nossa matriarca nos trechos iniciais da sua trajetória. Quanta luta para salvar os doentes como se fossem seus filhos! Conheci o cantor Raimundo Fagner no ano de 2006, na casa de trabalho de dona Aparecida e ontem, na partida dessa mãe especial, realizei um desejo de décadas: abraçar o jornalista Saulo Gomes.

Dona Aparecida Conceição Ferreira, nossa bandeira, nosso referencial.

(*) presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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