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Desculpa esfarrapada

Renato Muniz
Publicado em 16/06/2025 às 18:24
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Tem gente que arruma desculpa para tudo na vida. Para não ir à escola, ao trabalho, para não lavar a louça, para não começar a dieta, sei lá! Desculpas, explicações e pretextos proliferam quando é preciso esclarecer o inexplicável ou a má vontade, a incapacidade de fazer alguma coisa.

Existem alegações sinceras, defesas justas, mas sobram motivos bestas, capengas, frágeis. Vamos imaginar que você acordou sem vontade de ir à escola, por preguiça ou por outra razão qualquer. Aí, você apela para o frio, uma febre repentina, uma gripe, um mal-estar súbito. Inventa, usa e abusa da criatividade — às vezes, você convence.

Foi dormir tarde e perdeu a hora, vai chegar atrasado no trabalho? O que fazer? Dizer que o trânsito está insuportavelmente lento por causa de um acidente ou porque caiu uma ponte. Você teve de levar seu filho no pronto-socorro? Não, você torceu o pé, mas amanhã tudo se resolve. Conseguir bons argumentos, consistentes, para não se arrepender depois, para não passar vergonha, é imprescindível. São conhecidos casos de estudantes que “mataram” suas avós umas três ou quatro vezes. O povo diz que a mentira tem pernas curtas, não se esqueça disso. Nessas horas, conhecer os ditados populares é importante.

Uns e outros são bons em inventar desculpas na hora, são criativos, têm a imaginação em alta, na ponta da língua. Pegos no flagra, sacam ideias inusitadas da cachola para as besteiras que dizem e nem ficam constrangidos. Outros apelam para autoridades, reais ou imaginárias, para entidades superiores, para entes mágicos e criaturas estranhas. E tem quem seja capaz de bolar escusas para si mesmo. Pois é, tentam justificar incapacidades e procrastinam para abrandar a própria incompetência.

Mudar de vida, tentar melhorar as relações familiares, ir ao médico, trocar de emprego, tirar notas melhores — são vontades ou necessidades corriqueiras que, não raro, deixamos para depois, inventando justificativas para adiar as devidas providências.

Se eu escrevo tudo isso, não pensem que estou atrás de alguma indisposição repentina ou que pretendo adiar essa crônica, é porque tenho observado um tipo cada vez mais comum de conversa fiada, de alegação inconsistente para a falta ou a impossibilidade de prestação de um serviço. Você provavelmente já se deparou com uma manobra dessas: a famosa “falha no sistema”. Essa é imbatível. “Desculpe, senhor, estamos com uma falha no sistema, volte mais tarde, tente novamente”. É de doer, de arrebentar com o bom humor e a paciência do cidadão.

Dá vontade de perguntar: “qual sistema?”. O sistema econômico ou o sistema digestivo? Acreditem: já vi até empresas que lidam com o sistema (neste caso, refiro-me à informática) alegando que não podem prestar um serviço ou resolver um problema por “falha no sistema”. E aí? Vamos recorrer ao bispo, ao guarda da esquina ou ao CEO lá no Vale do Silício? Pode ser que seja falha no sistema cognitivo. É complicado.

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