Não sei vocês, mas eu continuo recebendo moedinhas de troco. Isso quando tenho de pagar alguma despesa em dinheiro, coisa cada vez mais rara hoje em dia. De qualquer forma, sempre preferi moedinhas a bala. De onde veio esse estranho costume de devolver bala quando falta troco? Da indústria açucareira? Da fábrica de balas do Seu Manuel? Se foi, parabéns! Eis uma estratégia de sucesso. Até que veio o fim do dinheiro de papel, cujo reinado parece estar chegando ao fim. Será?
O que me incomoda nem são as moedinhas. Quando eu era criança, sempre fui incentivado pelo meu avô paterno a guardá-las. Já meu avô materno gostava de colecioná-las. Eram ações bem diferentes. O avô paterno tinha uma visão pragmática do mundo e guardar as moedinhas servia para formar nos netos atitudes de poupança e investimento. Já o avô materno tinha interesses antropológicos, históricos, de colecionador mesmo.
No primeiro caso, como o objetivo era juntar dinheiro, onde guardar as moedinhas não era tão relevante. Podia ser numa lata de doce vazia, na gaveta de meias ou no banco, sob supervisão de um adulto, o pai ou o próprio avô. No segundo caso, como o objetivo era conhecer a moeda, sua história, o período histórico, onde foi cunhada e outras características, guardar sempre representou um problema: num envelope, numa pasta destinada exclusivamente ao assunto? Em recipientes apropriados? Quais?
Como era o dia a dia que determinava e moldava nossos hábitos, incluindo a necessidade de comprar lanche nos intervalos das aulas, pagar a despesa da lanchonete ou da pizzaria nos fins de semana, etc., a questão adquiria outros contornos. Ah, não posso me esquecer da ida semanal à banca de revistas para comprar minhas revistas em quadrinhos preferidas. Embora a verba não fosse grande, era nessas pequenas compras que sobrava alguma moedinha.
Onde eu as guardava? Ora, no bolso da calça. Meninos não usavam bolsas e a vida tinha de ser prática. Eu devia desincumbir-me rápido dos afazeres domésticos e escolares para me dedicar ao que considerava urgente: ir ao cinema, ler os quadrinhos, jogar bola, namorar, vocês imaginam. Recebia o troco e colocava as moedinhas no bolso. Acontece que, com o uso, eles rasgavam, furavam. Era constrangedor ver uma moedinha escorrer perna abaixo, rua abaixo, às vezes se perder irremediavelmente numa boca de lobo rumo ao córrego que passava debaixo da avenida. Adeus, moedinha.
Com o tempo, percebi que ter um recipiente adequado era a melhor opção. E tratei logo de pedir uma bolsinha de couro para meu avô paterno. Eu ainda a tenho comigo, mas não a uso mais. Muito raramente, aparece uma moeda de troco. Quase ninguém usa dinheiro — papel moeda — para pagar despesas. Tudo se faz por meio de cartões de plástico, Pix e aplicativos. Será que as crianças de hoje sabem pra que serve uma moedinha?