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A coragem do professor José Fernando Borges Bento (parte II)

Nilson de Camargos Roso
Publicado em 14/07/2023 às 19:44
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SEGUNDO FATO que mostrou sua coragem: na década de 1980, houve intensa criação das chamadas Fundações de Apoio, que agiam como braços das Ifes (Instituições Federais de Ensino Superior), facilitando e agilizando aquisição de material para o hospital federal, prestando serviços à comunidade e contratando colaboradores, como empresa privada. Assim nasceu a Funepu, Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba, em abril de 1982, criada por 27 professores e um médico, à semelhança da Faepu, Fundação de Assistência, Ensino e Pesquisa de Uberlândia, braço atuante da Universidade Federal de Uberlândia. Seu primeiro presidente e responsável pela criação foi o professor José Fernando. Naquela época, o então Hospital Escola (HE) era mantido somente pelo MEC. Caso conseguisse convênio com o antecessor do SUS, o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social), o HE teria duas fontes para se manter. Porém, havia um impasse: como conseguir um convênio do Inamps, entidade federal repassadora do pagamento, com a Funepu, empresa privada? Esta foi mais uma ação histórica e corajosa do José Fernando. Em reunião das Ifes em 1983, no Rio de Janeiro, com o então presidente do Inamps, Aluísio Sales, José Fernando se levantou e colocou a necessidade do convênio com o Inamps, conforme documentação encaminhada pela Funepu ao Inamps. O professor Aluísio solicitou a resposta a esta indagação a um assessor, que, uma vez consultado, permitiu que o professor Aluísio desse a resposta: “o credenciamento do Serviço de Odontologia de Uberaba já foi autorizado”. Professor José Fernando emendou de pronto: “excelência, este credenciamento a que o senhor se refere diz respeito à instituição privada Fiube (Faculdades Integradas de Uberaba). A minha instituição é federal e o credenciamento se refere à assistência médica prestada por um hospital universitário”. Relata José Fernando que o presidente do Inamps olhou para o assessor que prestou a informação errada e, com o olhar, procurou fuzilá-lo. Enfim, foi graças a esta gafe histórica que o convênio do Inamps foi assinado com a Funepu. Era mais um sonho realizado para a FMTM. Até então, o HE era mantido somente pelas verbas do MEC. A partir do convênio com a Funepu, houve duas fontes de manutenção do HE. Isto proporcionou o crescimento da FMTM como um todo. Quando repassei a Funepu ao meu sucessor, em janeiro de 1990, a Funepu faturava cerca de US$600.000,00 por mês e gastava US$200.000,00 com seus servidores, sobrando US$400.000,00 por mês para serem gastos na FMTM. O mais importante, não divulgado por mim e nem pelo meu sucessor: deixei para a futura gestão, em janeiro de 1990, US$1.150.000,00 em caixa da Funepu, conforme balanço em histograma feito pelo então secretário executivo da Funepu, Carlos Antônio Gomes, além de um HE totalmente abastecido em todos os seus setores. Esta quantia salvou a FMTM no momento em que Fernando Collor congelou os depósitos bancários. Hoje, no Hospital de Clínicas (HC) da UFTM, sob o comando da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), há licitações que demoram meses, fato que não ocorria com a Funepu. O mais grave: nem um simples disjuntor elétrico há de reserva dentro do HC, sendo comprado após haver a comprovação do dano elétrico e da necessidade de compra.

Nilson de Camargos Roso
Doutor em Anestesiologia, professor aposentado pela UFTM
[email protected]

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