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Uberaba: Equívocos Históricos (I)

Giodo Bilharinho
Publicado em 29/04/2025 às 20:23
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Em livros, jornais, periódicos, ensaios, teses universitárias, vídeos e artigos variados têm ocorrido afirmativas e informações equivocadas a respeito de pessoas, atos, fatos e datas históricas de Uberaba e região.

Tais ocorrências, além de serem instrumentos diretos de desinformação, ainda influenciam e pautam trabalhos posteriores que nelas se baseiam, repetindo e multiplicando os lapsos e enganos.

Há, pois, necessidade de maiores cuidados ao se abalançar alguém a fazer referências ao histórico da cidade.

Impressionam a quantidade, a repetição e a insistência de afirmativas e informações históricas destituídas de lastro cultural, pesquisas e fundamentação em documentos e fontes confiáveis.

Todos são passíveis de errar, inclusive indiretamente ao se basear em fontes equivocadas. Por isso, e a fim de se evitar a incidência, repetição, multiplicação e persistência em equívocos, apontam-se a seguir, a título de exemplificação, e como advertência e alerta, erros detectados em publicações diversas, objetivando alertar os interessados e, principalmente, os afoitos e apressados, que não se dispõem a consultas e pesquisas verificadoras e chanceladoras de suas afirmações e informações.

Por fim, o que importa e interessa não é saber quem errou, mas ter ciência do erro para não mais se repeti-lo. A referência à autoria só é efetuada quando imprescindível ou anteriormente divulgada.

 Major Eustáquio

Eustáquio da Silva e Oliveira, fundador de Uberaba, vem sendo vítima de série de informações errôneas.

1- No livro A Estrada de Anhanguera, de Alexandre Barbosa e Silvério José Bernardes (à p. 13 do original e p. 50 da edição eletrônica), citam os autores trecho do ensaio Igreja da Matriz, de Antônio Borges Sampaio, de que “pelos idos de 1809 a 1811 esteve naquela paragem [povoado do Lajeado] o sargento-mor Antônio Eustáquio”.

Dois reparos. O ano foi de 1812, conforme Vigário Silva em História Topográfica da Freguesia do Uberaba – Vulgo Farinha Podre. Antônio Eustáquio não era, então, sargento-mor, patente que obteve só em 1820. À essa época, era capitão.

2- À p. 14 do original e p. 50 da edição eletrônica, os autores de A Estrada de Anhanguera informam que a chácara de Antônio Eustáquio “foi fundada de 1809 a 1811”.

Na realidade, o fato se deu em 1812, quando da segunda e definitiva vinda de Antônio Eustáquio.

3- No jornal Estado do Triângulo, de Sacramento, datado de 16 de outubro de 2020, publicou-se que “em 1820, idealizada pelo major Eustáquio, uma bandeira partiu do Desemboque com destino a Goiás, desbravando o famoso Sertão da Farinha Podre”. Três erros numa só frase. Eustáquio organizou não uma, mas duas bandeiras, uma em 1810 e outra em 1812, quando aqui se fixou, bandeiras que, além de idealizadas, foram por ele organizadas e comandadas. Seus destinos não foram Goiás, mas exploração da região hoje ocupada por Uberaba, indo até a atual Prata.

4- No Correio de Araxá, de 15 de abril de 2017, foi publicado que, em 1810, “já com a região consideravelmente povoada”, ele teria dado “início a um povoado em suas terras, erigindo uma capela”. Nada disso ocorreu. A região de Uberaba só era povoada por umas dez ou quinze famílias de sesmeiros e possivelmente seus auxiliares e por Pedro Panga. Nesse ano, Eustáquio não deu início a nenhum povoado e não erigiu nenhuma capela, tendo voltado ao Desemboque e só retornado à região para se fixar definitivamente em 1812, quando passando pelo arraial da Capelinha, fundado provavelmente em 1811 ou 1812, o considerou localizado em região inadequada ao desenvolvimento de povoação, continuando mais 12 a 15 quilômetros, onde, nas proximidades da foz do córrego das Lajes e rio Uberaba, construiu apenas a sede de sua chácara. Uberaba só foi fundada por ele posteriormente.

5 – Em livro editado em 2004, à sua p. 4, afirmou-se que Eustáquio era “sargento-mor, depois capitão e, mais tarde, major”. Ele foi capitão e, depois, em 1820, elevado a sargento-mor, correspondente, após o Exército ter alterado sua nomenclatura, a major. À época e até os dias de hoje, sargento é inferior a capitão. Porém, antes da citada alteração de nomenclatura, sargento-mor era superior e continuou sendo como major.

6 – No Jornal de Uberaba, de 4 de janeiro de 2013, foi dito por um depoente que “o nepotismo nasceu junto com a cidade. O fundador foi o major Eustáquio da Silva, que logo deu um jeitinho de emplacar seu irmão, o capitão Domingos da Silva Oliveira, no cargo de agente executivo”.

Tal não ocorreu. O major Eustáquio faleceu em 1832, ano em que Uberaba passou a ser distrito da vila de Araxá. Só em 1836, por lei provincial de 22 de fevereiro desse ano é que foi criada, sub condicione, a vila de Uberaba, sendo efetuada no decorrer do ano a eleição para preenchimento da Câmara Municipal, tendo o capitão Domingos obtido o maior número de votos e, por isso, guindado à presidência da Câmara e, automaticamente, conforme a legislação então vigente, à função de agente executivo.

7 – Não consta, como afirmado no Jornal de Uberaba, de 1º de março de 2009, que “algum tempo depois, major Eustáquio construiu residência na praça Rui Barbosa”. Em fins de 1816 ou inícios de 1817, construiu retiro para gado nesse local e oficina de conserto de carros e carruagens a cargo de habilitado escravo. Se posteriormente o reformou e transferiu para ele sua residência é questão que demanda pesquisa e prova.

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