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Manto carmim: baseado em jogatina das cores

Charles Thon
Publicado em 05/05/2025 às 18:31
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Num condomínio fechado, num clube fechado, num grupo fechado...

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– Atenção, pessoal, declaro aberta a reunião do GTB, Grupo de Torcedores Brasileiros. Sob a pauta de decidirmos quais providências tomar, em razão da substituição do segundo padrão da nossa Seleção Brasileira de Futebol.

– Antes de tudo. É mesmo verdade essa coisa de camisa vermelha da seleção? – questiona uma moradora, já calejada com tantas fake news.

– Sim, é verdade. Como você acha que estou me sentindo, tendo que vender na minha rede de lojas camisas que nem sei se vão ter saída?

– Pois é. Ainda mais que não existe a cor vermelha na nossa Bandeira Nacional e nem no escudo da CBF.

O grupo reunido consiste de profissionais dos mais diversos segmentos. Todos, de alguma forma, preocupados com a tal novidade.

– Eu mesmo – toma a palavra um ancião, tido como o conselheiro do condomínio –, em toda minha vida, e olhe que já fui em quase todas as copas, nunca imaginei que um dia veria a nossa seleção vestida de vermelho.

Mediante aquelas palavras, carregadas de experiência futebolística, inicia-se um burburinho.

– Gente, gente, por favor – como em todo lugar existem apaziguadores... –, temos que resolver o que se fazer. Não adianta criarmos polêmicas. Temos que resolver dentro da lei.

– Isso mesmo. Que tal um abaixo-assinado? – propõe uma professora universitária.

– Pronto. Lá vem ela com as suas ideologias democráticas – protesta um militar da reserva de alta patente.

– Por isso não – contrapõe –, tem soldados que usam boné, touca, sei lá o nome, na cor vermelha – sem se lembrar das palavras boina e nem paraquedista.

– Ahhh! Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.

– Concordo com o general – opina um pastor evangélico, das primeiras igrejas, dos bairros número um, dos primeiros assentos dos púlpitos.

Porém, como já diz o velho ditado de que “Nada como um dia atrás do outro, com uma madrugada no meio para atrapalhar”... Uma historiadora dá a sua contribuição no debate.

– Pessoal, enquanto vocês falavam, dei uma pesquisada na Internet. E sabem o que descobri sobre a segunda camisa...

– Já sei. Que é azul – como em todo lugar existe um sabe-tudo – e que foi usada pela primeira vez na final da Copa de 58.

– Sim. Mas não é só isso – prossegue a historiadora, empolgada com a descoberta. – Como a camisa da Suécia era amarela, o chefe da delegação brasileira sugeriu a camisa na cor azul, inspirada no manto da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida.

Nisso, há um silêncio eterno de segundos. Pois, cristãos de credos distintos – afora parte a silenciosa euforia dos católicos – ficam pensativos, como se dissessem “e agora? Desse detalhe não sabíamos”.

Daí, é quando um aposentado cientista botânico, dos que auxiliaram no projeto dos Jardins de Burle Marx, sugere então a segunda camisa na cor verde. 

– Peraí, agora deu – protesta uma beata –, verde vai parecer com a da Bolívia. E mais, verde lembra a folha da maconha. Isso nunca.

– Não misture alhos com bugalhos, minha senhora – tenta argumentar. – Fosse assim, vamos mudar o nome do Brasil. Porque tem origem na cor vermelha do Pau-Brasil.

O negócio já descambando pra outro bulício.

– Vou logo avisando – diz alguém que não entende nada de futebol –, se o Brasil for pra final e jogar com essa camisa vermelha, nem que seja contra a Alemanha, que fez sete pontos no Brasil, vou torcer pra Alemanha.

– Troca a cor do teu sangue, então – rebate um engraçadinho, que perde o amigo, mas não perde a piada.

– Cale a boca. Até parece comunista.

É quando alguém interpõe...

– Pessoal, só um minuto, por favor. A gente não sabe nem se o Brasil vai se classificar nas eliminatórias. Vamos deixar esse assunto pra depois.

Enfim, todos de comum acordo, dão por encerrada a reunião, despedindo-se com abraços e apertos de mãos. Com um certo alguém (“muá” jamais) de coração mais apertado, pensativo...

“Quer dizer que a cor azul representa Maria? Será que fica bem a segunda camisa ser transparente”. Já idealizando uma reunião à parte com outros cristãos, os de Cristo, segundo ele, os de Cristo mesmo.

 Charles Thon

Pastor/doutor em Teologia; especialista em Direitos Humanos; membro da Global Academy Of Letters

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